Aos amigos tudo – Quando vestiu a fantasia de Messias dos trópicos, o então presidente Luiz Inácio da Silva tratou de encomendar aos seus marqueteiros um slogan para o seu governo. Eis que surgiu “Brasil, um país de todos”. Acontece que nas entranhas da realidade cotidiana uns são mais iguais que os outros.
Longe das benesses oficiais desde que teve rejeitado um pedido para captação de patrocínio com isenção fiscal, em 2008, a cantora Maria Bethânia viu o seu nome pulular nas redes sociais nesta quarta-feira (16) por conta de algo no mínimo abusado. A cantora conseguiu junto ao Ministério da Cultura, comandado pelo também baiano Juca Ferreira, autorização para, com base na Lei Rouanet, captar R$ 1,3 milhão para a criação de um blog, “O Mundo Precisa de Poesia”, dedicado às rimas e estrofes, de acordo com a jornalista Monica Bergamo, da “Folha de S. Paulo”.
A área técnica do Ministério da Cultura rejeitou o pedido, mas o então ministro Juca Ferreira se valeu do peso da própria caneta e atendeu o pleito da conterrânea. O tal blog trará apenas um vídeo por dia, com Maria Bethânia interpretando grandes obras da literatura, sob direção de Andrucha Waddington.
A reportagem do ucho.info entrou em contato com a assessoria do Ministério da Cultura para saber se diante da polêmica haveria qualquer manifestação por parte dos integrantes da pasta, mas a informação é que não há ainda decisão a respeito. O jornalista Gilmar Corrêa, responsável pelas operações do ucho.info em Brasília, encaminhou ofício ao Ministério da Cultura, de acordo com orientações da própria assessoria ministerial, mas a nossa expectativa em relação a uma possível resposta é quase nula, pois por enquanto continua sendo extremamente difícil explicar o inexplicável.
Considerando que criar um blog com vídeos sobre poesias não consome tamanha fortuna, é absolutamente viável imaginar que o apoio de Dona Canô, patriarca da família Veloso, à então candidata Dilma Rousseff não foi em vão, enquanto o filho, Caetano, reforçava a campanha da candidata Marina Silva. Assim como surtiu efeito o apoio do cantor e compositor Chico Buarque, que viu sua irmã, Ana de Hollanda, chegar ao Ministério da Cultura. E se Ana de Hollanda não vetar a benesse concedida a Maria Bethânia, pode-se dizer que o Brasil foi transformado em uma irreversível baderna vermelha.