Rota alterada – Só mesmo um inocente para acreditar que Marcos Valério Fernandes de Souza, condenado a quarenta anos de prisão no julgamento da Ação Penal 470 (Mensalão do PT), desistiu de revelar o que sabe por causa da recusa das autoridades em conceder a delação premiada.
Operador financeiro do maior escândalo de corrupção da história brasileira, Marcos Valério é um arquivo ambulante e deveria revelar o que sabe, independentemente de qualquer benefício por parte da Justiça. O Brasil precisa se livrar da quadrilha que se instalou no Planalto Central, o que só será possível com a revelação de fatos passíveis de comprovação.
O Mensalão do PT transformou-se em uma espécie de rodoanel de outros tantos casos escabrosos, os quais precisam ser investigados a fundo e seus protagonistas levados ao banco dos réus. Do contrário, o Brasil se perpetuará na história como reduto da impunidade. Na esteira do esquema criminoso montado com a aquiescência do Palácio do Planalto para comprar parlamentares há uma conjunção de crimes, alguns conhecidos.
O primeiro deles é a repatriação dos recursos da cobrança de propinas em Santo André, operação que culminou com a morte do petista Celso Daniel, que foi covardemente assassinado por se contrapor à destinação dada pelo PT ao dinheiro que deveria financiar a campanha do então candidato presidencial Lula. Depositado no exterior, o dinheiro voltou ao Brasil por meio dos empréstimos fictícios que rechearam a epopeia do Mensalão.
Diferentemente do que muitos acreditam, o caixa do Mensalão não foi abastecido apenas com o dinheiro desviado do Banco do Brasil (Visanet) e dos empréstimos bancários. Ao longo dos últimos anos, pouca atenção se deu a determinada declaração do ex-petista Silvio Pereira, o “Silvinho Land Rover”, que afirmou que o objetivo do partido era arrecadar perto de R$ 1 bilhão com o esquema.
Para que isso fosse possível, os palacianos abriram o balcão de negócios e aceitaram doações escusas de empresários que buscavam negócios com o governo. O repasse do dinheiro imundo se deu através de campanhas publicitárias superfaturadas, algumas das quais operacionalizadas pelas agências de Marcos Valério. O que explica o fato de a polícia ter encontrado talões de notas fiscais das empresas queimadas em um terreno de Belo Horizonte.
A diferença entre o custo real da campanha e o valor pago pela contratante era repassada ao caixa do Mensalão do PT. Pelo menos duas empresas de telefonia celular lideraram o esquema criminoso, que proporcionou aos seus artífices não apenas proximidade com integrantes do governo, mas também e principalmente sociedades com familiares de destacadas figuras do Palácio do Planalto.
Não foi por causa de eventual inocência que Marcos Valério chegou ao cargo de operador financeiro do Mensalão do PT. O publicitário mineiro só alcançou tal posto porque mostrou aos petistas sua vocação para o mal. Mesmo condenado a quatro décadas de prisão, Valério continua sendo um voraz negociador. E seu recuo não saiu de graça, até porque qualquer nova declaração sua representaria prejuízos milionários ao PT. Resumindo, alguém pagou, e muito, pelo silêncio do caixa do Mensalão.