No rastro do impeachment de Dilma, defunto que “vendeu” pedreira a líder do PMDB volta a assombrar

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Engana-se quem pensa que o comportamento do deputado federal Leonardo Picciani, líder do PMDB na Câmara, a favor da presidente Dilma Rousseff tem como base questões ideológicas ou convicções firmes acerca da lisura da petista à frente do governo. Leonardo é filho do deputado estadual Jorge Picciani, chefão do PMDB do Rio de Janeiro e presidente da Assembleia Legislativa estadual. Durante a corrida presidencial de 2014, Jorge Picciani apoiou a candidatura do tucano Aécio Neves, sem abandonar a candidatura de Pezão ao governo fluminense. Ou seja, a família Picciani foi contra Dilma Rousseff.

Enquanto anuncia repetidas vezes que sua trajetória política não tem manchas e que jamais manteve contas bancárias na Suíça, em clara provocação ao presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), a petista Dilma pode agregar problemas ao próprio currículo com o apoio estranho e incondicional apoio de Leonardo Picciani, que é escancaradamente contra o impeachment.

O líder peemedebista está envolvido em um escândalo que pode ganhar novo impulso com o calvário político da presidente da República. A família Picciani, conhecida por atuar no setor agropecuário – o chefão do clã é conhecido nas rodas políticas como “O Rei do Gado” –, em 2012 ingressou no setor de mineração.

Em 28 de setembro daquele ano, os proprietários da Tamoio Mineração reuniram-se na sede da empresa em Jacarepaguá, na Zona Oeste do Rio de Janeiro. De acordo com a ata da reunião, um dos sócios da Tamoio, Joaquim Vivas Caravellas vendeu as 100 ações que detinha tinha a outros dois sócios. Para tanto, Caravellas assinou um documento confirmando a transação.

A transação seria mais um negócio normal entre milhares que acontecem todos os dias no País, não fosse um pequeno e importante detalhe: Caravellas morrera em 21 de abril de 2001, aos 87 anos, portanto dezessete meses antes da reunião na sede da mineradora que vende brita para empreiteiras de obras públicas de infraestrutura. O negócio firmado pelo defunto beneficiou o clã político dos Picciani.

Além do líder do PMDB na Câmara dos Deputados, outros dois filhos de Jorge Picciani são sócios da Agrobilara, empresa da família: Rafael, deputado estadual e secretário municipal de Transportes do Rio, e Felipe, que cuida dos negócios familiares. Compraram as ações do defunto a Agrobilara, empresa dos Picciani, e Carlos Cesar da Costa Pereira, conhecido como Carlinhos, empresário do ramo de tubos de concreto.

A assinatura de Felipe Picciani, irmão do líder do PMDB, aparece no documento de aquisição das ações logo abaixo da firma do defunto. No ato da compra estava presente o economista Jorge Luiz Ribeiro, amigo de Jorge Picciani, o “dono” do PMDB fluminense. A Agrobilara e o empresário Carlinhos revenderam a Ribeiro, na sequência, 8% das ações da pedreira. Ribeiro nega ter “sociedade específica com Picciani”. “Sou sócio junto, faço parte da mesma empresa”, disse à revista Época.


A família Picciani não nega a transação, pelo contrário, mas culpa o contador dos Caravellas pela confusão. “O contador dos vendedores foi quem preparou os documentos da transferência. Se alguém cometeu um equívoco, por ele (contador) deve ser sanado”, afirmou à época o deputado Jorge Picciani, em nota. Por outro lado, Reinaldo, filho do finado Caravellas, não soube explicar como a assinatura do pai apareceu nos documentos.

Depois de tornar-se sócio da pedreira Tamoio, em setembro de 2011, Leonardo Picciani, que trabalha pela presidente Dilma no imbróglio do impeachment, viu seu patrimônio multiplicou pelo menos cinco vezes.

Até a sua morte, Joaquim Caravellas detinha 75% das ações da Tamoio, ou seja, era o controlador da empresa. Dois meses depois de sua morte, Caravellas passou a vagar nos corredores da Junta Comercial do Estado Do Rio de Janeiro. Em 29 de junho de 2011, alguém usando seu nome e assinando por ele apareceu na Junta para registrar os balanços financeiros de 2008 a 2010. Procedimento estranho nessa barafunda chamada Brasil, mas absolutamente normal diante do fato de que havia interessado na empresa. Em setembro do mesmo, a empresa dos Picciani comprou 49,99% das ações da pedreira. Em suma, o clã integrado pelo protetor de Dilma Rousseff tornara-se sócio de um morto.

Confrontada com a assinatura de Caravellas em outro documento, a que consta na contrato de venda da pedreira nem de longe é semelhante. Na assinatura original o nome de Joaquim Caravellas é ilegível e a escrita é contínua. Contudo, na assinatura “post mortem” é possível ler os três nomes do antigo controlador da Tamoio Mineração: Joaquim Vivas Caravellas. Um documento assinado em nome de pessoa morta é “inexistente”, de acordo com o que determina a legislação vigente. Em outras palavras, o documento de compra da mineradora não tem efeito.

Após recente reportagem da TV Record, que abordou o polêmico tema, a família Picciani, por meio da assessoria do chefe do clã, informou que não é sócia da mineradora, mas apenas acionista. Informou também que os Picciani pretendem processar a Record por danos, com pedido de indenização e direito de resposta. O mais interessante é que os Picciani negam ser sócios da Tamoio, mas à revista Época o economista Jorge Luiz Ribeiro disse ser sócio da empresa juntamente com Picciani.

O assunto rendeu muitas conversas na Câmara dos Deputados, a ponto de gerar chacotas de toda ordem. Na ocasião, um deputado da base não perdeu a oportunidade e disparou: “Comprou a empresa de um defunto e agora é um defunto da política brasileira”. Essa referência macabra se deve ao fato de que Leonardo Picciani traiu seus pares nas negociações que marcaram a recente reforma ministerial promovida pela presidente da República. Picciani teria atropelado Eduardo Cunha e Michel Temer, além dos integrantes dos partidos da base.

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