Em sessão que começou na última quinta-feira (25) e terminou somente nesta quarta (31), com direito a mais de 70 horas de discussão e entreveros diversos, o Senado Federal decidiu, por 61 votos a favor e 20 contra, afastar definitivamente Dilma Rousseff da Presidência da República. Trata-se do segundo impeachment em 24 anos – o primeiro foi de Fernando Collor de Mello –, o que mostra que o modelo presidencialista brasileiro é falho. Ou seja, o momento sugere uma reflexão sobre o parlamentarismo como modelo de governo.
Com a decisão, que será alvo de pelo menos dois recursos – inócuos, dizem os especialistas – junto ao Supremo Tribunal Federal (STF), o Partido dos Trabalhadores sofre a sua maior derrota desde a criação da legenda, em fevereiro de 1980. Mesmo assim, o impeachment servirá para que o partido tente ressurgir da lama da corrupção, após pouco mais de treze anos no poder central, período marcado por seguidos escândalos e bizarrices em termos de governança.
Avessa à política e nutrindo inequívoco desapreço por seus atores, Dilma desconhece a palavra humildade, por isso não conseguiu fazer uma correção de rota que teria evitado esse desfecho traumático para a nação e pífio para o seu currículo. Seus defensores alegaram, no plenário do Senado, que seu temperamento não lhe permite fazer salamaleques na direção do Parlamento. O que confirma sua inabilidade para estar no comando de uma nação.
Mesmo insistindo na enfadonha tese do golpe, a petista sabe que incorreu em crimes de responsabilidade, violando o que determina a Constituição. Em suma, esculpiu com o cinzel da arrogância o próprio calvário. Dilma, apesar das inequívocas provas de suas transgressões, precisava de uma narrativa que lhe garantisse um lugar não tão acanhado na história. E novamente o fez mentindo.
No momento em que teve a oportunidade de reverter o cenário desfavorável, mesmo que muitos considerassem essa missão impossível, Dilma agiu com arrogância e passou longe do discurso histórico que seus defensores garantiram que ela faria. O máximo que conseguiu fazer foi, com muita dificuldade, dizer que pode ter cometido erros enquanto esteve na Presidência. A grave crise econômica mostra que Dilma errou de forma magistral, mas ela insiste em tratar o fato consumado como eventual possibilidade.
Seu grande erro foi não encarar a realidade do País e ter se valido da chamada “contabilidade criativa” para garantir a reeleição. Soberba e prepotente, Dilma vendeu aos brasileiros incautos, na corrida presidencial de 2014, a falsa ideia de que o Brasil era um braço avançado do paraíso. Chegou a afirmar que a inflação estava próxima de zero e que nem mesmo com a vaca tossindo os direitos trabalhistas seriam violados. Não precisou muito tempo para que a verdade viesse à tona.
Não há a menor possibilidade de alguém colher aquilo que não plantou. Ao perceber que a semeadura foi um monumental erro, Dilma tentou desrespeitar frontalmente a Constituição Federal ao propor novas eleições gerais. Isso porque sua essência mesquinha e esquizofrênica a impede de aceitar a derrota. Antes de tudo, a agora ex-presidente deveria combinar uma renúncia generalizada em todo o País. Algo que, se bem sucedido, demoraria anos.
A petista, que sempre foi tratada com certo desdém na legenda, não acatará com facilidade a decisão tomada pelo Senado no último dia de mais um fatídico agosto. No primeiro momento circulará a bordo da vitimização, tentando provar aos camaradas da esquerda de que foi alvo de um golpe. Mas esse movimento tende a esmaecer com o avanço do calendário. Da história Dilma já saiu, mas resta saber qual será sua próxima parada. Se aceitar sua insignificância, terá lugar garantido no esquecimento. A insistir na tese do golpe, alcançará o Olimpo da mediocridade. E PT saudações!