Reduto de desmandos, universidade de SP funcionava como usina de decisões judiciais

“Um país se faz com homens e livros”. Assim disse certa vez José Bento Monteiro Lobato, um dos maiores escritores brasileiros, mas não é exatamente essa a realidade que o País vive desde que alguns alarifes descobriram que o poder permite ultrajar as fronteiras da lei.

A referência de Monteiro Lobato aos homens e aos livros nos leva a concluir que uma nação só avança na direção do futuro quando os homens e o conhecimento são prioridades do Estado como um todo. No Brasil, a educação pública é um desleixo conhecido, enquanto que a privada nada mais é do que uma dourada e incansável cornucópia que alimenta os bolsos de uma minoria que transformou o ensino de qualidade duvidosa em fonte inesgotável de recursos.

Analisando as modorrentas entranhas do poder é possível perceber que alguns dos que deveriam zelar pelo estrito cumprimento do conjunto legal do País não o fazem porque a ganância estrangula a idoneidade e cega a coerência. São Paulo, mais rico e importante estado brasileiro, transformou-se em palco de aberrações jurídicas, algumas delas protagonizadas por operadores do Direito. Como se fosse pouco, uma instituição educacional de nível universitário foi transformada em fonte de benesses materiais e financeiras que podem ser classificadas como criminosas.

Comandada até recentemente pelo advogado Pedro Henrique Sertório, a Unipinhal (Centro Regional Universitário de Espírito Santo do Pinhal), no interior paulista, está sob intervenção por conta de gestão fraudulenta e milionário desvio de recursos por parte de seus, fato constatado e facilmente comprovado pelo Ministério Público de São Paulo.

Fazendo da legislação verde-loura vigente um cipoal de inocuidades, o timoneiro da Unipinhal estendeu seus tentáculos às coxias do Judiciário paulista, tendo patrocinado aberrações jurídicas e judiciais que por certo aterrissarão nas Cortes superiores da Justiça nacional. Ou seja, uma instituição que deveria ensinar aos alunos a boa conduta, como forma de perpetuar as palavras de Monteiro Lobato, acabou enveredando por searas obscuras, para não afirmar que seguiu trilhas criminosas, pois seus protagonistas apostaram na sempre malfadada impunidade.

Sobre a intervenção decidida pela Justiça paulista, o advogado Pedro Sertório, que conversou com o ucho.info por telefone, disse que tudo não passa de uma monstruosa inverdade, quando não uma reticente perseguição. Acontece que Sertório, que disse ter empenhado patrimônio pessoal para obtenção de recursos para a Unipinhal, empregou no centro universitário diversos parentes e pessoas que lhe interessavam pessoal e profissionalmente.

Pedro Sertório, que insiste em se passar por vítima de pessoas mal intencionadas, há muito é alvo das maledicências do povo pinhalense, que ao se referir ao diretor da universidade e seus comparsas até hoje não economiza adjetivos como “quadrilheiros” e “mafiosos”, de acordo com a imprensa local. Fora isso, Sertório e seus parceiros de transgressões são acusados de crimes tributários, contratação de funcionários fantasmas e uso de dinheiro da instituição educacional para o pagamento de custosas despesas pessoais.

Entre os desmandos cometidos na Unipinhal também constam o pagamento de salários nababescos, concessão de empréstimos a juros módicos para integrantes da diretoria e demissão fictícia de funcionários indicados pelos dirigentes, como forma de permitir o pagamento de indenizações elevadas.

O grupo comandado pelo advogado Pedro Henrique Sertório contava com o servilismo genuflexo, mas ricamente recompensado, de promotores, delegados e juízes da região, como é possível conferir mais adiante.

Usina de sentenças a partir da universidade

Dono de um antigo escritório de advocacia na cidade de Espírito Santo do Pinhal, Pedro Henrique Sertório usou o centro universitário para contratar e ter ao seu lado pessoas que pudessem lhe proporcionar algum benefício, mesmo que de forma indireta, como é o caso do juiz Júlio Cesar Ballerini Silva, que de acordo com ofício assinado pelo interventor da Fundação Pinhalense de Ensino (mantenedora da universidade), Jorge Marcio Arantes Cardoso (ex-delegado de Polícia Federal), integrou o quadro docente da Unipinhal entre 1º de março de 1999 a 13 de janeiro de 2011.


Trecho de ofício assinado pelo interventor da Unipinhal

Nesse período, segundo apurou a reportagem do ucho.info, Ballerini Silva atuou como juiz em causa patrocinada por Pedro Henrique Sertório, quando na verdade o magistrado deveria se declarar impedido, como fazem os doutos integrantes da magistratura. Como era de se esperar, a decisão do juiz Júlio César Ballerini Silva favoreceu o escritório de Pedro Sertório, que teve como resultado uma Carta Precatória, enviada à capital dos paulistas, esculpida sob o cinzel dos interesses do chefão da quadrilha que se instalou na Unipinhal.

Em um país minimamente sério, com Poderes constituídos contemplados por doses rasas de seriedade, Sertório e Ballerini Silva já estariam contemplando o nascer do astro-rei sob a ótica da quadrilateralidade.

De olho nos desdobramentos milionários que o conluio com o juiz poderia lhe render, Pedro Henrique Sertório arremessou sua ganância inescrupulosa para um setor da advocacia que na Pauliceia Desvairada, assim como em outras cidades brasileiras, é conhecido como a “Máfia das Arrematações”. Trata-se de um grupelho de advogados que, a reboque de amizades espúrias, manipulam editais de leilões judiciais e produzem ao bel prazer os resultados de hastas públicas.

Os mafiosos da arrematação e o Don Corleone de Pinhal

Para fazer de seu projeto putrefato uma realidade de mentirosos aromas, Pedro Sertório se valeu dos serviços profissionais de outro advogado, o “arrematante” Rinaldo Lotti. De chofre Sertório nega essa parceria obscura, mas em reunião com causídicos de um dos seus adversários acabou confessado sua ligação com Lotti.

Figura fácil nas coxias das arrematações, Rinaldo Lotti é conhecido no bacharelato paulistano como agente de construtoras e especuladores imobiliários, que aproveitam a fragilidade das minúcias da lei para destruir famílias, aniquilar histórias laborais, corroer sonhos longevos e abduzir covardemente o patrimônio alheio.

No rol de clientes de Rinaldo Lotti aparece, direta ou indiretamente, a AGRA Incorporações Imobiliárias, resultado da fusão de três outras empresas do setor, a Abyara, CEGG, Klabin-Segall. As duas primeiras (Abyara e CEGG) foram alvo da Operação Boi Barrica, da Polícia Federal, que investigou crimes de lavagem de dinheiro e evasão de divisas.

Como se fosse um intricado enredo de filme policial, capaz de fazer inveja aos melhores roteiristas hollywoodianos, a AGRA é de propriedade do polêmico empresário espanhol Enrique Bañuelos, que na terra das touradas responde a inúmeros processos judiciais, sendo que em um deles consta pedido de prisão.

O esquema fraudulento e criminoso comandado pela quadrilha se fez presente em vários leilões judiciais que hoje se encontram sob o manto da suspeição. No rol de arrematações manipuladas constam duas valiosas propriedades, largamente conhecidas pelos paulistanos nos últimos cem anos. A primeira delas, que pelas mãos da súcia em questão acabou nas mãos da trinca luciferiana formada pela Abyara, CEGG e Lutfalla-Maluf, pertenceu ao grupo Guilherme Giorgi e estava localizada em área valorizada da Zona Lesta da cidade de São Paulo.

A segunda propriedade leiloada à sombra da fraude, cujo pecaminoso processo ganhou peçonha a partir do conluio entre Pedro Henrique Sertório (chefão da Unipinhal) e o juiz Júlio César Ballerini Silva, abrigava o famoso e respeitado Laticínios União, imóvel fincado no bairro do Pari, que forma um dos vértices da extensa e populosa Zona Leste paulistana, área que tem se valorizado diuturnamente.

No caso da arrematação do imóvel que em passado não tão distante pertenceu ao grupo empresarial Guilherme Giorgi, o juiz que promoveu o leilão foi afastado de suas funções no Judiciário por conta de investigações da Polícia Federal que serviram de base para a Operação Navalha.

Já no caso da empresa Laticínios União, o juiz Júlio César Ballerini Silva, então titular da 1ª Vara Cível de Pinhal, também foi afastado das funções por decisão do Órgão Especial da Magistratura, que após apreciar as graves acusações apresentadas pelo Ministério Público paulista puniu-o por suas bisonhas e nada ortodoxas ligações com o advogado e dublê de alarife Pedro Henrique Sertório, que abrigava o suspeito magistrado nos quadros funcionais da Unipinhal e de quem recebia nada desprezível remuneração mensal para ensinar aos alunos aquilo que deixou de fazer sob a sacra toga que ostentava.

O sonho de Lobato virou pesadelo

Que Monteiro Lobato sempre imaginou o Brasil como uma nação perfeita e ereta moralmente todos sabem, mas o criador do Sítio do Pica-Pau Amarelo jamais imaginou que um dia sua lapidar declaração pudesse ser carcomida pela indignidade dos agentes do Estado, não sem antes ser pisoteada pela ganância daqueles que fazem do poder uma latrina onde chafurdam aqueles que deveriam ser impolutos e defender os interesses da sociedade.

Não faz muito tempo, a bordo de um messianismo boquirroto, Luiz Inácio da Silva ousou incorporar aos seus dois mandatos o slogan “Brasil, um país de todos”. Acontece que no Brasil de verdade, esse país manejado inescrupulosamente por pessoas como Sertório, Lotti e Ballerini, nem todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, como prega a nossa Carta Magna. Até porque, nessa tresloucada Terra de Macunaíma alguns poucos são mais iguais que a maioria.