Tragédia de Congonhas: sete anos depois, governo tropeça em detalhes e mostra a face de culpado

tam_11Pingos nos is – A tarde de 17 de julho de 2007 caminhava para o seu final quando o telefone do ucho.info tocou. A chamada, de pessoa próxima, serviu para informar que o Aeroporto de Congonhas, em São Paulo, tornara-se palco da maior tragédia da aviação brasileira. Um avião da TAM (Airbus 320) não conseguiu frear na pista do aeroporto paulistano, atravessou movimentada avenida e chocou-se com o terminal de cargas da companhia aérea. Ao todo, 199 pessoas morreram no acidente que parou o Brasil.

O tal telefonema serviu não apenas para nos deixar a par do ocorrido em Congonhas, mas para colocar o ucho.info nos bastidores da tragédia, onde atuamos com muita responsabilidade, respeito incondicional aos familiares das vítimas e sem qualquer dose de sensacionalismo. Em nenhum momento abusamos do fato de estarmos nas coxias da tragédia para produzir qualquer matéria supostamente exclusiva. No momento de dor não há exclusividade jornalística, inexistem furos de reportagem. Apenas o respeito às vítimas e às famílias deve reinar absoluto no exercício do jornalismo.

Semanas após o acidente, com o caso ainda reverberando de norte a sul, decidimos contrariar a pasteurizada imprensa nacional e afirmamos que Denise Maria Ayres de Abreu, então diretora da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), não era culpada pelo trágico acidente, como tentaram fazer acreditar, de chofre, algumas autoridades. Sete anos depois, ainda com a mesma convicção de antes, reiteramos que Denise Abreu é inocente.

No Brasil instituiu-se ao longo dos anos que apenas a grande imprensa é capaz de fazer bom jornalismo. Isso porque veículos de menor porte não podem, em tese, ultrapassar as milionárias estruturas midiáticas. Sair à frente da concorrência, pequena ou grande, tornou-se a nossa marca, sem jamais termos abandonado a responsabilidade, a ética e o compromisso com a verdade. Informar, sim, sem dribles, sem tergiversações, sem encomendas.

Por conta da nossa afirmação de outrora, que destoava das reportagens de então, não demorou muito para que surgissem em cena ilações covardes e maldosas. Muitos passaram a afirmar que o editor do site havia recebido dinheiro para defender a inocência de Denise Abreu. Nada poderia ter sido mais criminoso e covarde do que tal afirmação. Naquele momento, conhecendo a essência da imprensa nacional, o melhor foi confiar no tempo, o eterno senhor da razão. Os fatos começaram a emergir e muitos dos algozes passaram a se desculpar, como se isso bastasse para apagar a mancha na reputação de alguém.

Acostumados a esses jogos sujos e rasteiros, decidimos manter o foco no trabalho, ciente de que em algum momento a verdade prevaleceria. Mesmo assim, até hoje surgem teorias conspiratórias acerca da nossa postura diante da verdade. E a maior vítima foi o editor do site, que da noite para o dia, juntamente com Denise Abreu, passou a ser alvo de afirmações hipócritas e machistas. Nada disso nos abalou e, como mencionado anteriormente, mantivemos o foco e seguimos adiante.

No rastro do caldeirão em que se transformaram as investigações da tragédia de Congonhas, o ucho.info não pensou duas vezes antes de afirmar, sem medo de errar, que a culpa era do governo petista de Luiz Inácio da Silva, que anos antes tinha fincado no comando da Casa Civil a “companheira” Dilma Vana Rousseff, hoje presidente da República. Vale lembrar que as questões relacionadas à aviação são de responsabilidade da Casa Civil.

Na ocasião, o governo de Lula tentava de todas as formas escapar da responsabilidade. E para tanto não economizou esforços e abusou das intimidações. Em determinada manhã, no Palácio do Planalto, executivos ligados à aviação ouviram de um palaciano de alta patente que, diante da insistência de se jogar a culpa no colo do governo, quebrar empresas do setor seria o próximo passo. Quem participou desse encontro chantagista e criminoso precisou de alguns poucos minutos para informar ao editor o conteúdo da ameaça. Por certo muitos hão de negar o que ora afirmamos, mas Dilma Rousseff sabe muito bem que estamos ao lado da verdade, como de costume.

O tempo passou, o desespero das famílias das vítimas amainou, dando lugar à intransponível e perene tristeza. Enquanto apostava no desenrolar do script oficial, o governo negociava a entrega de alguma cabeça para ser execrada pela opinião pública. A cabeça escolhida foi a de Denise Abreu, vítima de uma armação espúria costurada por governistas e integrantes da oposição. Pode parecer espantoso e impensável esse conluio, mas foi exatamente isso que aconteceu. Quem conhece com mais profundidade o caso sabe que essa manobra covarde gerou reticências, algumas das quais tentaram aterrissar, sem sucesso, no processo que tramita na Justiça Federal.

Naquele momento, enquanto a extensa maioria da imprensa execrava Denise Abreu, o ucho.info afirmava que a culpa era do governo, pois é de responsabilidade da Infraero a liberação de uma pista de pouso e decolagem em qualquer aeroporto brasileiro, jamais de um dirigente de agência reguladora do setor. Como se sabe, a Infraero está no guarda-chuva do governo e sob a tutela da Casa Civil.

A ingerência do governo do PT nas questões da aviação comercial chega às raias do absurdo. Tanto é assim, que até hoje beira o incompreensível o fato de Lula ter intermediado a venda da outrora falida Varig, adquirida pela família Constantino pela fortuna de US$ 300 milhões. Ora, como algum empresário astuto e com fama de sovina pode pagar tanto dinheiro por uma empresa aérea que se resumia apenas e tão somente a uma marca? Importante, é verdade, mas desgastada. Até agora ninguém soube decifrar esse enigma.

Voltando aos fatos relacionados ao acidente, a ingerência escandalosa do governo federal nos assuntos da aviação ficou clara em recente determinação do Palácio do Planalto à Anac. A cúpula palaciana exigiu que a Agência providenciasse a imediata redistribuição dos “slots” de Congonhas. Para os menos enfronhados com a aviação, “slot” é o direito de pouso e decolagem em um aeroporto, o que permite a uma companhia aérea existir comercialmente.

Nessa inesperada redistribuição dos “slots” de Congonhas, perdeu a Avianca. Saiu ganhando a Azul, que usa aeronaves fabricadas pela Embraer. É nesse ponto que está estacionado o detalhe misterioso. Prejudicar a TAM e a Gol seria um tiro no pé do próprio governo, além de provocar um caos nos aeroportos do País, pois Congonhas é um centro de redistribuição de voos, hub no jargão da aviação.

No caso da Gol, prejudicar a empresa seria atropelar o lobby feito junto à família Constantino por Lula e pelo finado José Alencar, então vice-presidente da República e tão mineiro quanto os atuais donos da Varig, a nova. Em relação à TAM, a cautela prevaleceu, pois trata-se da maior companhia aérea em operação no Brasil. A partir de então, regras complexas foram criadas para embasar a tal redistribuição de “slots”.

O jogo é muito maior do que parece e passa por interesses comerciais bilionários. O anúncio da redistribuição dos “slots”, a mando do governo federal, aconteceu quase que em concomitância com outros assuntos da aviação. A Embraer fechou parceria com a sueca Saab para produzir, em São José dos Campos, no interior de São Paulo, os caças que reaparelharão a Força Aérea Brasileira. O Gripen NG (Next Generation), o caça sueco, ainda está no papel, mas o governo brasileiro tem interesse em ver a parceria prosperar para melhorar sua posição estratégico-militar na América do Sul. O objetivo é exportar aviões militares para os países vizinhos, mantendo a hegemonia. É importante lembrar, mais uma vez, que a Azul voa somente com aeronaves da Embraer.

Por outro lado, a Airbus desembarcou no Brasil para colocar em prática um plano ousado. Criou, recentemente, a Airbras, para fazer sombra à Embraer e abocanhar contratos de fornecimento de aviões militares para países sul-americanos. De igual modo, vale lembrar que a frota da TAM é formada predominantemente por aeronaves da Airbus.

Resumindo, com essa manobra de bastidor o governo federal deixou claro, sem direito a contestação, que manda no setor da aviação civil, chamando para si, como se eco fosse, a culpa pela tragédia ocorrida no aeroporto de Congonhas.

Para finalizar, sem jamais ignorar a dor que ainda assombra as famílias das vitimas do acidente ocorrido no aeroporto paulistano, Denise Abreu é inocente, enquanto o governo é o maior culpado, quiçá seja o único. Sempre lembrando, como forma de evitar alegações de desconhecimento acerca dos desdobramentos do ocorrido, o pai do editor morreu em trágico acidente aéreo.

apoio_04