(*) Gilmar Corrêa –
Nem santo duvida. Você já deve ter ouvido ou usado essa expressão. É como se tudo pudesse acontecer. Seria como se a lei da química pudesse ser a lei da física, onde tudo se transforma. Na química, quando uma reação acontece, nada pode ser mudado.
O impossível, na terra do nunca, funciona como nos desenhos animados. A imaginação é capaz de transformar o dito pelo não dito, ou fazer uma tartaruga dar saltos de pulga. O imaginário da ficção é o que está acontecendo na política brasileira. Piratas do discurso não encontram limites para o inusitado. Falta-lhes ineditismo e originalidade.
Nada melhor que os próprios políticos para jogar na latrina o pouco de credibilidade que ainda lhes resta. São tantas promessas, tantas baboseiras e atos obscenos que num futuro próximo e bem próximo ficará só um monte de lixo.
É fácil e cômodo, portanto, reclamar que há uma campanha deliberada contra os políticos, ou como disse o troglodita-senador Roberto Requião, um “bullying” da imprensa contra os parlamentares. É muita desfaçatez!
A falta de “desconfiômetro” desse pessoal provoca asco na sociedade. Senão vejamos: na tarde da última terça-feira, dia 26, foram anunciados os titulares e suplentes do Conselho de Ética e Decoro Parlamentar do Senado Federal. De 15 nomes, oito respondem a processos no Supremo Tribunal Federal, o paraíso de quem acaba eleito.
São eles: Renan Calheiros (AL), Romero Jucá (RR) e Valdir Raupp (RO), além de Mário Couto (PSDB-PA), Gim Argello (PTB-DF), Jayme Campos (DEM-MT), Acir Gurgacz (PDT-RO) e Antonio Carlos Valadares (PSB-SE).
Como acreditar que gente com extensa ficha corrida vá fiscalizar ou punir atos obscenos para a vida pública de seus pares? Só a Velhinha de Taubaté, um personagem criado pelo escritor e Luis Fernando Veríssimo.
Além disso, há as promessas, ah as promessas! Passamos as eleições do ano passado ouvindo que uma das prioridades seria a reforma política. Ora, até os próprios parlamentares não acreditam que possa acontecer alguma coisa para melhorar a escolha de nossos representantes. É evidente: quem atira no próprio pé?
Tudo bem, essa generalização da idiotice, aliada à hipocrisia não é um filhote da política. Parece ser algo contaminado que se espalhou com remotas chances de diminuir, quanto mais acabar.
Acostumamo-nos a reclamar que os deputados são uns pilantras corruptos. A verdade, entretanto, é que o nosso comportamento chega a ser semelhante nas pequenas coisas. Pequenas vantagens sobre o próximo.
Exemplos: veja o idiota que ocupa a vaga no estacionamento destinada aos velhinhos ou aos portadores de necessidades especiais. O cara que vive furando a fila do caixa do banco. Aquele que tenta subornar o guarda depois de ser pego sem a carteira de motorista. Ou o dono da verdade ou semideuses que enfia o brasão na cara de alguém, tripudiando as boas maneiras e enfiando na sacola de lixo as leis que deveriam cumprir.
Esses mesmos personagens podem ser você, eu, ou seu vizinho, o seu irmão e o seu pai. Se a gente aceita o que os deputados e senadores fazem o que dá na telha é porque não construímos o respeito próprio. Cidadania se constrói com boa educação, sem exageros, mas também com indignação. E você duvida?