Um ano após ataque a shopping de Nairóbi, Al-Shabab mata 147 pessoas no Quênia

al-shabab_01Crime seletivo – Sem chance Na manhã desta quinta-feira (2), de acordo com o ministro do Interior do Quênia, Joseph Nkaissery, integrantes do grupo extremista Al-Shabab atacaram uma universidade no nordeste do país, matando 147 pessoas. Outras 79 ficaram feridas. Testemunhas revelaram que o ataque teve como alvo os cristãos que estudam na Universidade Garissa. Um porta-voz do Al-Shabab assumiu a autoria do ataque.

Os atiradores foram cercados em um dos dormitórios da universidade, onde reféns foram mantidos pelos extremistas. Sobreviventes relataram que as vítimas foram impiedosamente alvejadas e disparos eram ouvidos enquanto elas corriam para tentar salvar suas vidas.

O vice-presidente do grêmio estudantil, Collins Wetangula, disse que estava se preparando para tomar banho quando ouviu disparos vindos de um dormitório a 150 metros do local onde estava, que é habitado tanto por homens quanto por mulheres. O campus tem seis dormitórios e pelo menos 887 alunos, afirmou Wetangula.

O estudante relatou que assim que ouviu os tiros trancou-se com outros três colegas em seu quarto. “Tudo que pude ouvir foram passos e disparos. Ninguém gritava porque as pessoas achavam que isso faria com que os atiradores soubessem onde estavam”, ressaltou. “Os homens diziam a frase ‘sisini al-Shabab’ (que em swaihi significa ‘somos do Al-Shabab’)”, afirmou Collins Wetangula.

Quando os atiradores chegaram ao seu dormitório, ele pôde ouvi-los abrindo portas e perguntando se as pessoas que estavam escondidas eram muçulmanos ou cristãos. “Se você fosse cristão, era alvejado ali mesmo. A cada disparo eu achava que iria morrer”. Ainda segundo Wetangula, os extremistas começaram a disparar rapidamente, como se houvesse troca de tiros. “Em seguida, vimos, pela janela de trás de nossos quartos pessoas usando uniformes militares que se identificaram como soldados quenianos”, disse o estudante.

O ataque começou às 5h30 (horário local). As orações matutinas já haviam começado na mesquita da universidade, onde as pessoas não foram atacadas, segundo relatou o estudante Augustine Alanga, de 21 anos.

Perfil do grupo terrorista

Al-Shabab significa “A Juventude” em árabe. O grupo surgiu, em 2006, como ala radical da outrora União das Cortes Islâmica da Somália, enquanto o grupo combatia as forças etíopes que entraram no país para apoiar o fraco governo interino. Há informações sobre a presença de jihadistas estrangeiros na Somália para ajudar o Al-Shabab.
O grupo impôs uma versão rígida da sharia (lei islâmica) nas áreas sob seu controle, incluindo o apedrejamento até a morte das mulheres acusadas de adultério e a amputação das mãos dos acusados de roubo.

O episódio trágico desta quinta-feira é mais um ato de retaliação do Al-Shabab contra as autoridades quenianas. O grupo extremista tem como base a Somália e repudiou a decisão de Nairóbi de enviar tropas para o país vizinho há quatro anos, como parte de um esforço internacional para reprimir as atividades extremistas.

Considerado como organização terrorista por autoridades norte-americanas e britânicas, o Al-Shabab tem como objetivo maior a criação de um Estado islâmico na Somália, país que há muito vive à sombra da instabilidade política e da falência do governo central. Para exemplificar o caos que reina na Somália, de 1991 a 2012 o país ficou sem governo formal.

Ligado à rede Al-Qaeda, o Al-Shabab vem promovendo ataques contra o Quênia desde 2011, quando tropas quenianas entraram no sul da Somália para combater os militantes do grupo.

Em 24 de setembro de 2013, após homens mascarados e fortemente armados promoverem verdadeiro massacre em um shopping de Nairóbi, que durou pelo menos dois dias, o Al-Shabab reivindicou a autoria da ação que deixou 67 mortos, incluindo quatro terroristas, e quase 200 feridos. (Por Danielle Cabral Távora)

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