(*) Marli Gonçalves
Uma mão lava e leva a outra. E ainda te dão uma passada de mão, ou levam sua carteira. Sozinha, nenhuma andorinha faz nem verão nem inverno. Eles, os caras, sem os amigos, não conseguiriam fazer nada disso que a gente está vendo. Na dança todo mundo entra com um quentão. Ou com umas costas quentinhas.
Olha a cobra! Homens de um lado, mulheres de outro! Gays? OK, podem se espalhar. E todo mundo no meio!
Chama o padre! Ou melhor, a polícia! Não! O juiz! Não, melhor chamar o advogado.
Olha a noiva! É filha de quem? Cai, cai, balão. Cai, cai, balão. Aqui na minha mão. Não vou lá, não vou lá, não vou lá. Tenho medo de apanhar.
Está tudo misturado. E a gente fica igual sanfona tocando fóim-fóim no meio de tudo isso. Junho é um mês significativo de festas aqui no Brasil. Mês das quadrilhas, e elas estão espalhadas, principalmente pelo Nordeste. Olha a chuva! Ninguém viu as pessoas-barquinhos, tudo perdido no meio da água. Chegam só agora por lá, mas para pedir votos para essa gente que como não tem alternativa, acaba é dando para eles. O voto e a alma. E depois vocês ficam se perguntando de onde vem o tal alto índice de aprovação? Da música, uai! Das festas, uai! Coronel com coronel. Nessa dança só tem para eles. Para nós, só o busca-pé estourado, a fogueira pisada, a brasa.
Já reparou como eles – você sabe bem de que “eles” estou falando – vivem sempre em bandos? São sempre os mesmos, nos mesmos lugares, falando as mesmas coisas, fazendo as mesmas promessas. Tem hora que um está caindo, vem os outros e salvam e assim eles ficam, sempre vivos, sempre devedores uns dos outros. Tem horas que uns fazem que estão vendo; outras que se fazem de cegos ou de indignados. Daqui a pouco, todos juntos, de mãos dadas. Estoura, pipoca! Tudo em um só embrulho. De estômago. Porque a dança das quadrilhas está no meio do salão.
Quentão com foguetes esta é nossa vida, desarranjada com tantos escândalos que não são só a noiva ou a amante embuchada.São os políticos embuchados, caras-de-pau oco, agora em versões operadas. Não de sexo , que eles não teriam coragem! Eles operam os estômagos. Operam os deles. Embrulham os nossos. Todos querem agora virar sílfides. Deve ser mais uma ação pela transparência, dessas que vira e mexe inventam, desde a onda do botox. Aproveitam, tiram uma folga, assobiam aqui e ali. E a coisa vai correndo. Rojões que eles acendem, iguais a charutos sofisticados.
Adivinhe quem é a pamonha da história?
Acredito que você já entendeu que estou querendo dizer que não tem santo nesta história, nem Antonio, nem Pedro, nem João, muito menos Josés. Só tem os Manés. Eu não sabia, tu sabias, ele sabia, mas não admite, nós sabemos e não podemos fazer nada, vós sabeis que eles sabem. Armam-se as quadrilhas, os circos, as comissões parlamentares. Armam-se os protestos, as passeatas, as greves e invasões. E como não é festa italiana, as massas são agitadas de acordo com o arrasta-pé. A gente veste a roupa de retalhos só para dar o colorido.
Olha os juros! Abaixa a cabeça que ele vai te pegar! Caíram! Subiram!
Olha a marolinha! Volta! Um passo para frente. Dois para trás. Olha o avião! Caiu! Cadê os tubarões? Estão na roça caçando os leitõezinhos que espirram.
Não é um, não é dois, não é três. As quadrilhas juntam muita gente para nos fazer dançar. Quem pode, pode. Se esconder atrás da Igreja não é coisa só do interior. Nas festas da capital, a gente pode ver. Como todo mundo é bom de bico.
Costas quentes, quentinhas. Todos de mãos dadas, se salvando em botes.
“Nesta noite de folguedo/ todos brincam sem medo/ a soltar seu pistolão.”
“Meu balão azul foi subindo devagar /O vento que soprou meu sonho carregou/Nem vai mais voltar”.
São Paulo, uai! 2009!
Marli Gonçalves, jornalista. No arraial, tem visto os troca-troca, lé com lé, cré com cré. Já sentiu o créu?