Amazonense queima Constituição em protesto aos escândalos do Senado

Indignação em carne e osso
Chama-se Raimundo Ribamar. Tem 45 anos e é amazonense. Foi ele o protagonista do primeiro protesto contra o Senado Federal, envolvido em denúncias de irregularidades que, inclusive, ameaçam a permanência do senador José Sarney (PMDB-AP) na presidência da Casa. Raimundo foi detido pela Polícia Legislativa do Senado após atear fogo na Constituição Federal, quando o senador Demóstenes Torres (DEM-GO) concedia entrevista à imprensa na tarde desta quarta-feira.

Não foi a primeira vez que este amazonense desempregado realizou atos contra símbolos nacionais. No dia 14 de novembro do ano passado, defronte o Palácio do Planalto, queimou as bandeiras do Brasil, da Inglaterra e dos Estados Unidos. O protesto voltou a se repetir no dia 2 de abril na frente do Supremo Tribunal Federal. O motivo era chamar a atenção para a humanidade, “o respeito pela vida” e em defesa da Amazônia.

Com óculos do tipo “fundo de garrafa” e cabelos compridos, Raimundo tem traços indígenas. Fala bem e tem as frases bem articuladas. Surpreendente para alguém que era analfabeto até os 39 anos. Começou a estudar, garante ele, em 2003, concluindo o Telecurso em 2005. Dois anos depois teria passado para o Curso de Direito na Universidade Federal do Amazonas. Abandonou, pois passou num concurso da prefeitura de Iranduba, município do interior do Amazonas, sua terra natal.

Raimundo tem a mente em conflito. Largou o trabalho, vendeu a casa e tudo que tinha para ir a Brasília a fim de protestar. Hoje vive de favor no Albercom, um albergue mantido pelo Governo do Distrito Federal na cidade de Águas Claras. O Albercom é conhecido como a filial do inferno. Lá, a morte ronda os albergados como sentinela da miséria.

Raimundo Ribamar tem a alma do inquieto. Planeja seus protestos com antecedência. Pretende queimar a Bíblia e o Alcorão. Ainda não escolheu a data, mas tem certeza que será em setembro.

O amazonense mirrado de corpo esquelético está quase convencido em concorrer nas eleições. “Será em 2014, talvez para a Presidência da República”. Raimundo tem certeza que a miséria é uma coisa, mao o orgulho é outra conversa. Além de pensar em se candidatar (“As pessoas perguntam isso”, diz ele), o brasileiro que dribla a miséria e persegue os sonhos e a utopia quer editar três livros. Mesmo sem ter escrito uma só linha, já definiu os nomes: “História de um excluído”, “Desvendando o enigma” e “Animais e a forma humana em que caminha a humanidade”.

“Você é louco?”, pergunta o repórter. Raimundo desvia e, na sua sabedoria, acredita que hoje é ele quem faz protestos, amanhã podem ser outros. Loucura ou não, é assim que também já pensa a Polícia Legislativa do Senado Federal. A ordem para a segurança é para ficar esperta. Podem acontecer novos protestos, com ou sem Raimundo Ribamar.