Câmbio e mão-de-obra – Empresas transnacionais com atuação no ramo alimentar no Brasil, como a Nestlé, estão comprando soja beneficiada da China. O motivo é o preço, que chega a ser 30% menor que o praticado pelo Brasil, um dos maiores produtores mundiais do grão. A informação é do ex-ministro da Fazenda Rubens Ricupero, que participou na tarde desta quinta-feira (2) de um fórum sobre câmbio na Organização das Cooperativas do Brasil.
A soja é a base para a produção de uma série de alimentos industrializados, servindo até mesmo para a produção de leite vegetal. É um produto rico em proteínas. Estados Unidos é o maior produtor de soja (32%), seguido do Brasil (28%), Argentina (21%), China (7%) e Índia (4%).
A soja mais barata daquela vendida, por exemplo, pelos produtores do Paraná e Rio Grande do Sul, estaria relacionado a uma série de fatores, como o câmbio e até mesmo subsídios escamoteados à agricultura pelo governo chinês. A prática seria lesiva, pois contraria interesses acordados entre o Brasil e aquele país asiático. Ricúpero não comentou, mas alguns convidados do fórum sugeriram também o custo muito barato da mão-de-obra chinesa.
No evento da OCB, o ex-ministro defendeu que o G20 assuma as discussões para acabar com a guerra cambial. A disputa poderia provocar a adoção em escala de medidas protecionistas que afetariam o comércio mundial. Segundo ele, a cooperação internacional é o caminho para o ajuste internacional do câmbio.
“Uma guerra cambial não interessa a ninguém. No fundo, todos perdem. Uma guerra que levasse a uma escalada de medidas protecionistas, seja através da moeda ou de barreiras comerciais, afetaria a economia mundial e entraríamos em uma nova fase desta crise”, explica. “Temos [o Brasil] duas alternativas: a cooperação ou o conflito com perdas”, resumiu.
No mesmo evento, o diretor da Tendências Cunsultoria e ex-diretor do Banco Central, Gustavo Loyola, afirmou que países emergentes, como China, Índia e Brasil, serão os motores do crescimento econômico mundial no curto prazo, “mas não estão imunes aos efeitos da crise mundial”. Segundo anotou a assessoria da OCB, Loyola disse que a perspectiva de crescimento da economia mundial em 2011 é de 3,7%.