Proposta do PMDB de aumento do salário mínimo deve ir além do apetite do partido por cargos

Chumbo trocado – Confirmando o que antecipou o ucho.info, a decisão da presidente Dilma Rousseff de não atender os pleitos do PMDB começa a render os primeiros dividendos políticos negativos. Depois da briga nos bastidores por cargos no segundo escalão do governo federal, cuja escolha foi suspensa por decisão da cúpula peemedebista e adiada para fevereiro, o Palácio do Planalto já tem no caminho uma ameaça que pode levar o novo governo ao descrédito junto à opinião pública.

Mesmo negando a existência de uma intifada, o PMDB ressurgiu na cena política do Planalto Central com o discurso de que o novo valor do salário mínimo, que desde 1º de janeiro vale míseros R$ 540, não é convincente. Líder do PMDB na Câmara dos Deputados, o potiguar Henrique Eduardo Alves destacou nesta terça-feira (4) que “uma coisa não tem nada a ver com a outra”. A declaração do líder peemedebista aconteceu horas depois de o governo da presidente Dilma admitir que o reajuste do salário mínimo ficou aquém da inflação, o que não acontecia desde 1993.

A rebelião foi decidida durante encontro que reuniu o vice-presidente da República, Michel Temer; o presidente do Senado, José Sarney (AP); o presidente do PMDB, Valdir Raupp; o líder no Senado Federal, Renan Calheiros; e a governadora do Maranhão, Roseana Sarney. Lideranças do PMDB devem discutir ainda nesta terça o assunto com o ministro de Relações Institucionais, Luiz Sérgio (PT), cuja indicação ao cargo continua sem convencer os que acompanham o cotidiano do poder.

O que o PMDB não deve fazer é usar um eventual projeto de reajuste do salário mínimo como ponta de lança para estocar Dilma Rousseff e seus assessores mais próximos, como retaliação por não ver contempladas suas vorazes ambições. O salário mínimo atual, fixado em R$ 540 por Medida Provisória editada pelo ex-presidente Lula da Silva, é uma afronta ao trabalhador, que já enfrenta nas gôndolas dos supermercados alta generalizada nos preços dos alimentos.

A proposta das centrais sindicais, que se reúnem no próximo dia 11, é elevar o salário mínimo para R$ 580, valor que compensaria o índice inflacionário de 2010 e colocaria mais dinheiro na economia. Quando o tucano José Serra, durante a campanha presidencial, propôs majorar o salário mínimo para R$ 600, muitos foram os críticos, em especial os palacianos. A desculpa do governo federal é que um aumento de R$ 70 causaria consideráveis estragos nas contas públicas, pois os aposentados e pensionistas da Previdência que recebem um salário seriam automaticamente beneficiados.

Quando um presidente ousa emprestar US$ 10 bilhões ao Fundo Monetário Internacional apenas porque acha o gesto chique, é possível concluir que o povo está satisfeito. Considerando que o slogan do governo Lula – “Brasil, um país de todos” – transformou-se em profecia petista, é difícil imaginar que exista qualquer grau de satisfação popular com um salário de R$ 540, pois um quilo de carne custa R$ 19, o que equivale a 3,5% dessa fortuna que o Planalto insiste em não aumentar. Para finalizar, ao defender um reajuste do salário mínimo o PMDB não pode pensar apenas na fome política que sempre emoldurou o partido.