“Ping-pong” entre autoridades é acionado em SP para justificar as enchentes e calar o cidadão

Jogo de cena – Depois de uma tragédia, o melhor (sic) que as autoridades podem fazer é anestesiar a consciência da população, pois assumir os próprios erros é considerado suicídio político. Maior e mais cobiçada cidade brasileira, São Paulo contemplou, no descer das águas da enchente da madrugada desta terça-feira (11), o rastro da incompetência dos que estão à frente da administração paulistana.

Depois de um bem ensaiado sumiço, o prefeito Gilberto Kassab (DEM), que vinha comemorando o índice de aprovação divulgado no final de 2010, apareceu para dar explicações estapafúrdias sobre a devastadora inundação que tomou conta de inúmeros bairros da cidade, provocando a morte de oito pessoas e prejuízos sem fim a dezenas de milhares de cidadãos. Repetindo capítulos de tragédias anteriores, a culpa coube mais uma vez à natureza. Na opinião de Kassab, choveu demais. E o alcaide, abusado como sempre, disse que o estrago só não foi maior porque os chamados “piscinões” funcionaram a contento. Fosse verdade, a capital dos paulistas teria escapado de uma cena veneziana.

De volta ao Palácio dos Bandeirantes, o tucano Geraldo Alckmin tentou explicar aos jornalistas, sem convencer, a responsabilidade do governo estadual no caso do transbordamento do rio Tietê, cujas águas fétidas e lamacentas avançaram pela via marginal de mesmo nome. Como se fosse dono da mais nova descoberta, Alckmin disse que a várzea, área onde estão fincadas as vias marginais (do Pinheiros e do Tietê), é do rio. Ora, isso é uma conclusão tão óbvia quanto o nome da rua que foi dragada pela cratera aberta no vácuo do acidente do Metrô. A via que por pouco não desapareceu do mapa foi um dia batizada de Rua do Sumidouro.

Pois bem, o governador paulista disse que onde a várzea está ocupada, a tarefa de acolher o transbordamento do rio é dos “piscinões” e das bombas. De acordo com Alckmin, o governo de São Paulo tem 32 “piscinões” em todo estado, enquanto a capital tem outros quinze. Acontece que esse mecanismo se mostrou insuficiente diante da sempre furiosa água que nesta época do ano despenca do céu com força extra.

Com a entrada de Gilberto Kassab e Geraldo Alckmin na seara das desculpas, qualquer ação de indenização por parte do contribuinte lesado acabará mergulhada em discussão sem fim, pois será absolutamente difícil definir de quem é a culpa pelas enchentes, pois os rios Pinheiros e Tietê, assim como suas respectivas vias marginais, são de responsabilidade do governo estadual.

Ou seja, esse jogo no melhor estilo empurra-empurra serve apenas para aniquilar qualquer possibilidade de reação popular, pois solucionar o problema que já atravessa séculos não interessa a ninguém, pois é o tipo de obra que não aparece e não garante reeleição. (Foto: Zanone Fraissat – Folhapress)