Sem prever a catástrofe do Rio, De Gaulle acertou ao dizer que o Brasil não é um país sério

Filme macabro – O entrevero que coloca, de um lado, a prefeitura de Teresópolis e, de outro, a Cruz Vermelha e a Igreja Católica está longe de ser uma guerra de egos, como afirmam alguns dos envolvidos na queda de braço que tem prejudicado ainda mais as vítimas da maior catástrofe natural da história do País. De acordo com representantes da Cruz Vermelha, funcionários da prefeitura têm impedido o trabalho da organização internacional na distribuição dos donativos que chegam diariamente de todo o Brasil e a assistência aos mais necessitados.

Pode parecer impossível, mas há nesse jogo imundo interesses políticos que ultrapassam o limite do bom senso. Na alça de mira das insanas medidas adotadas pela prefeitura de Teresópolis estão as eleições municipais de 2012. Com o número de mortos da tragédia crescendo a cada hora e o rastro de devastação chegando aos mais distantes pontos do planeta em questão de segundos, as autoridades começam a se preocupar com o estrago político que o episódio causará. Por conta disso, a prefeitura de Teresópolis quer tirar das mãos da Cruz Vermelha o controle da operação de distribuição de donativos. A inoperância do Estado, como um todo, em contraste com a disposição dos que estão na região devastada para prestar ajuda implode os planos políticos de muitos.

Com o governador Sérgio Cabral Filho (PMDB), um dos principais responsáveis pela tragédia, recolhido ao seu gabinete como forma de evitar um desgaste político ainda maior, na linha de tiro da opinião pública estão os prefeitos das principais cidades atingidas pela força da chuva. E nesse jogo sórdido pelo poder ninguém quer sair perdendo. Cabral Filho, que não aparece em público para responder às graves acusações que pesam contra si, deveria assumir o comando de um espetáculo pífio e absolutamente desnecessário em um momento de dor e destruição.

Enquanto os representantes da sociedade se engalfinham com os que prestam solidariedade às vítimas, a Polícia Militar do Rio de Janeiro se preocupa em dar voz de prisão aos comerciantes que têm praticado preços abusivos nas cidades afetadas. A PM deveria buscar doses extras de coerência e deter aqueles que impedem o socorro das vítimas, a começar pelo fanfarrão Sérgio Cabral Filho, que na última semana mentiu vergonhosa e descaradamente ao afirmar que o Rio sempre mereceu do governo de Luiz Inácio da Silva toda a atenção possível.

Quando o finado general Charles De Gaulle, ex-presidente da França, disse que o Brasil não era um país sério, muitos dos habitantes dessa insana Terra de Macunaíma ficaram contrariados. Décadas depois, os brasileiros descobrem que De Gaulle estava absolutamente correto.