Tucanos continuam perdendo a guerra para os criminosos na maior cidade brasileira

Poder paralelo – Diferentemente do que ocorre na cidade do Rio de Janeiro, cuja geografia evidencia e concentra a ação dos criminosos, na capital paulista a vastidão urbana permite uma ação pontual e horizontalizada dos bandidos.

Nesta terça-feira (8), a maior cidade brasileira acordou com a notícia de um assalto ocorrido na residência de Saulo de Castro Abreu Filho, ex-secretário estadual de Segurança Pública e atual secretário dos Transportes na nova gestão do tucano Geraldo Alckmin. Saulo de Castro mora em região nobre da cidade e sua condição de autoridade não impediu a ação dos marginais, cada vez mais ousados em suas investidas.

No início da tarde de segunda-feira (7), um dos mais badalados shoppings centers da cidade de São Paulo, o Morumbi Shopping, encravado na divisa entre os bairros doBrooklin e do Morumbi, serviu de palco para mais um assalto a joalheria, o décimo em apenas um ano. Ao deixarem o local, os assaltantes, fortemente armados, protagonizaram um faroeste a céu aberto ao atirarem a esmo e provocando pânico generalizado. A polícia foi chamada ao local, mas os meliantes conseguiram escapar.

No domingo (6), por volta das 8 horas da manhã, um condomínio no bairro do Morumbi foi alvo de um arrastão, tipo de crime que tornou-se comum na Pauliceia Desvairada. Dos oito apartamentos do edifício, seis foram assaltados e os moradores foram agredidos fisicamente. E os bandidos mais uma vez conseguiram fugir. Horas depois, quando a noite de domingo caminhava para o seu final, uma elegante residência no bairro de Cidade Jardim, ao lado do Jockey Clube, foi invadida por assaltantes. A dona do imóvel, mãe de um conhecido empresário paulistano, dormia em um quarto blindado e, mesmo com 80 anos, manteve a calma e telefonou para a polícia e em seguida para o filho. O empresário acionou um delegado amigo, que enviou para o local do crime aproximadamente quinze viaturas policiais. Dos três assaltantes, dois foram presos.

Assaltos a joalherias só acontecem por conta do baixo risco da operação e principalmente porque existem receptadores para as mercadorias roubadas. A polícia sabe quem são os receptadores, mas nada faz para coibir os negócios criminosos. Um dos receptadores, com lojas de fachada instaladas em badalados pontos da cidade, realiza com frequência leilões de jóias e relógios em Miami, nos Estados Unidos.

Mas o roubo de jóias e relógios não se limita a joalherias instaladas em shoppings. Em 26 de dezembro de 2009, assaltantes, armados de metralhadoras, invadiram a casa de um rico e conhecido empresário, de onde levaram aproximadamente US$ 1,5 milhão em dinheiro, relógios e jóias. Passados treze meses do ocorrido, o crime ainda não foi elucidado.

Na tarde desta terça-feira, um delegado da Polícia Civil paulista declarou que o problema da segurança pública é um assunto de toda a sociedade. O policial deixou claro que as questões da segurança devem ser transferidas também aos seguranças particulares e vigilantes, que cobram dos contratantes em troca de um serviço que não é prestado adequadamente. O delegado disse também que cada cidadão deve alterar a sua rotina quase que diariamente, evitando assim a coleta de informações por parte dos criminosos. Como se mudar a rotina, especialmente no trânsito, em uma cidade como São Paulo fosse tarefa fácil.

Declarações utópicas por parte de autoridades, quando o assunto é insegurança pública, não representam novidade alguma. Quando, tempos atrás, aumentou o número de assaltos em semáforos e cruzamentos da capital paulista, integrantes do governo estadual sugeriram que os motoristas circulassem pela cidade com os vidros dos automóveis fechados. E quem não conta com ar-condicionado no veículo que se sujeite às armas dos meliantes ou enfrente uma reduzida sauna com calor subsaariano.

Se o Estado não consegue cumprir com o que determina a Constituição, transferindo ao cidadão a responsabilidade pela garantia de seus próprios direitos, que a carga tributária seja reduzida na mesma proporção que a sociedade civil assume o papel do poder público. Do contrário, a segurança pública, por exemplo, continuará sendo mera retórica de palanque eleitoral.