Congresso insiste na reforma política, mas antes disso é preciso mudar a forma de fazer política

Mudando o quê? – Uma semana depois da abertura dos trabalhos legislativos no Congresso Nacional, os parlamentares retomaram a velha cantilena da reforma política, tema que sempre funciona como fita de inauguração de novas legislaturas. Com o passar do tempo, o assunto cai na vala do esquecimento, pois a política tem seus vícios e os viciados preferem manter o status quo a abrir mão das regalias muitas vezes conquistadas de maneira nada ortodoxa, para não afirmar que são espúrias.

Presidente do Senado Federal, José Sarney, senador eleito pelo PMDB do Amapá e ainda dono da política do Maranhão, declarou que em breve passará a funcionar uma comissão especial para tratar do assunto. Não há como imaginar que pessoas que dominam a política nacional queira mudar o cenário, sendo que tal mudança significa perdas imediatas para esses nefastos capitães hereditários.

De igual maneira, é difícil dar um voto de confiança a um grupo que em dado momento protagonizou manobras escandalosas, com direito a colocar a culpa em reses alagoanas, e em outro transformou em vento os malfadados atos secretos, inventados sorrateiramente para acomodar apaniguados e empregar os penduricalhos amorosos dos netos.

Se reforma existir, não dever ser política, mas da forma de se fazer política. E entenda-se por se fazer política o universo que engloba o período eleitoral e o cumprimento do mandato. Para que o leitor tenha ideia da necessidade cada vez mais premente de uma cobrança por parte da sociedade em relação aos seus representantes (sic) no Parlamento, a freqüência nas duas Casas do Congresso Nacional é algo de difícil compreensão.

No dia em que o Congresso retomou suas atividades, em 1º de fevereiro, o plenário do Senado registrou quorum de 81 senadores apenas no momento da posse dos eleitos em outubro passado. Horas depois, o mesmo plenário registrou a presença de 73 senadores, oito a menos que o total dos representantes dos vinte e seis estados e do Distrito Federal.

Na quarta-feira (9), a votação do nome do ministro Luiz Fux, que assumirá a vaga deixada por Eros Grau no Supremo Tribunal Federal, recebeu setenta votos: 68 a favor e 2 contra. Ou seja, onze senadores deixaram de votar. E para tal esses doutos e ausentes parlamentares devem apresentar em breve desculpas das mais estapafúrdias.

Atravessando o Salão Verde do Congresso e parando na Câmara dos Deputados, a situação não é diferente. No momento em que essa matéria for levada ao ar (por volta das 14 horas), a extensa maioria dos deputados já estará voando de volta para seus estados, sob o manto da desculpa que há assuntos a serem resolvidos nas bases eleitorais.

Quando, há dias, o ucho.info salientou que a fama do ex-jogador Romário de Souza Faria foi o combustível extra que impulsionou as críticas que o agora deputado federal recebeu por ter sido flagrado, na tarde da última quinta-feira (3), em uma partida de futevôlei, na Barra da Tijuca, o objetivo não era defendê-lo, mas mostrar que a prática é corriqueira e acontece há longas décadas.

Em outro vértice da polêmica matéria muito tem se falado em financiamento público de campanha, mas esse é outro ponto que deve ser analisado com calma e cuidado. Um mandato parlamentar não se consegue às custas de meros tostões. Uma campanha eleitoral rumo a qualquer das duas Casas legislativas federais exige não apenas polpudas quantias de dinheiro, mas conchavos com os financiadores dos candidatos, sempre prontos para cobrar o retorno mais adiante. Situação que, mais cedo ou mais tarde, acabará prejudicando a população.

Há outras tantas práticas lesivas que aqui poderia ser citadas, o que tomaria tempo e espaço, mas o importante é deixar claro que muito antes da reforma política é preciso reformar a forma de se fazer política. Até porque, a reforma política servirá para que os donos do poder passem a fazer o mesmo de sempre com uma fantasia diferente.