O líbio Khaddafi resiste no poder e o Oriente Médio está na iminência de uma guerra sem precedentes

Lenha na fogueira – O levante popular que pressiona o ditador líbio, coronel Muammar Khaddafi, a deixar o poder repete passo a passo os episódios ocorridos no Egito, onde depois de várias tentativas fracassadas o também ditador Hosni Mubarak foi obrigado a renunciar. Khaddafi inicialmente ordenou às forças militares e a milhares de mercenários que revidassem a manifestação dos revoltosos, o que provocou a morte de mais de mil manifestantes, de acordo com informações de autoridades dissidentes locais. A situação de Muammar Khaddafi é cada vez mais insustentável e sua derrocada é uma questão de mais alguns dias.

A “Primavera Árabe”, movimento que busca a democracia na região, atingiu por enquanto apenas os países localizados no norte da África, mas corre o risco de se espalhar pelo Oriente Médio se o ideal libertário alcançar a outra margem do Mar Vermelho e passar a ameaçar a estabilidade política da Arábia Saudita, que já ouve o eco da crise política que se instalou no Iêmen, país localizado ao sul do território saudita, e a que transformou o Bahrein, a leste, em uma praça de guerra. Se isso de fato acontecer, a Jordânia, do rei Abdullah II bin al-Hussein, país ao norte da Arábia Saudita, dificilmente escapará dessa lufada de liberdade que sopra em boa parte do mundo árabe.

Confirmada propagação da turbulência nesse enxadrismo geopolítico, a economia internacional sentirá sérios reflexos, pois a Arábia Saudita aparece em segundo lugar no ranking dos países produtores de petróleo, perdendo apenas para a Rússia. Para evitar que seu país seja afetado pelas revoltas populares em prol da democracia, o rei saudita Abdullah bin Abdul Aziz anunciou há dias um pacote de reformas políticas e econômicas. No âmbito da paz, sempre inconstante por lá, há um detalhe geográfico preocupante. A Jordânia faz fronteira com Israel, que por sua vez é alvo constante da fúria iraniana.

Enquanto a “Primavera Árabe” ganhou força por conta dos anseios dos jovens, que utilizaram a tecnologia para deflagrar a ideia de busca à liberdade, nos bastidores da crise há uma silenciosa comunhão entre a “irmandade Muçulmana” e as autoridades iranianas, que sonham em ver a reedição da Revolução Islâmica que em 1979 apeou do poder Mohammad Reza Pahlav, xá da antiga Pérsia, permitindo o retorno à Teerã de Ruhollah Mousavi, o radical aiatolá Khomeini.

Tão complexo cenário tem levado o governo dos Estados Unidos a se empenhar para estancar a crise na Líbia, evitando que ela se expanda para outros países muçulmanos e transforme a mais conturbada porção do planeta em um barril de pólvora sob a tutela de um incendiário.