Dirigente do Democratas diz que Planalto quer “mexicanização” da política brasileira

(*) Renata Bezerra de Melo, da Folha de Pernambuco –

Na impossibilidade de encontrarem-se pessoalmente em Brasília, ontem, como planejado, o presidente estadual do DEM, deputado federal Mendonça Filho e o ex-deputado André de Paula, que deixa o partido para assumir a presidência estadual do PSD, conversaram por telefone. O diálogo, que durou cerca de 20 minutos, serviu para formalizar a migração já conhecida do ex-dirigente do DEM, que integra um importante grupo empresarial do Nordeste.

Mendonça disse ter entendido “o caminho que André traçou para ele do ponto de vista político, mais afinado com o governo”. Sem cerimônia, o dirigente admitiu estar claro que o PSD forma uma “triangulação” com o PSB, “tanto é que André foi almoçar com o governador (Eduardo Campos, na segunda-feira para sacramentar a troca)”. Completando o raciocínio Mendonça reconhece ainda o esforço, “por trás”, do Palácio do Planalto para esvaziar a oposição. Porém garantiu que se manterá resistente.

Na leitura do presidente democrata, há uma força-tarefa maior de mexicanização da política brasileira, “de transformar todos os partidos num único”, a exemplo do Partido Único do México (PRI). A tese é ancorada em discurso do ex-governador Roberto Magalhães (DEM). “Eu pessoalmente vou resistir, articular com bravos companheiros como Roberto Magalhães, Gustavo Krause, Priscila Krause e Augusto Coutinho”, frisou. E reforçou: “Se houver um único resistente da oposição, serei eu. E tenho certeza que teremos outros”.

Mendonça Filho entende que André “tem as razões dele”, respeita-o e mantem o “apreço pessoal”. Preocupado em desfazer rumores de que o futuro presidente do PSD em Pernambuco teria sido relegado na eleição passada dentro do DEM, o parlamentar cita algumas bases eleitorais que foram compartilhadas com André para ajudá-lo na disputa, a exemplo de Custódia, Feira Nova e Macaparana. “Fomos solidários”, defende-se, grifando que sua declaração é em tom de testemunho, não de prestação de contas.

Seu intuito é minar “ilações” de que André de Paula não teria sido valorizado pelo Democratas. “Não é por cobrança que falo isso, é por respeito. Nossos laços pessoais não têm contabilidades. Falo para que se afaste, definitivamente, qualquer tipo de intriga ou afirmação maldosa”, explicou Mendonça.

Sobre detalhes da conversa com o ainda correligionário, o deputado resumiu: “Ele me disse que é um caminho político. Eu respeito e nada mais. Disse que ele é e continuará a ser meu amigo”. Questionado sobre declaração dada ao blog de Inaldo Sampaio, na última segunda-feira, de que André cometeu um “erro político”, ao debandar, Mendonça Filho reservou-se ao direito de não se estender mais no assunto. Mas admitiu: “Evidente que tenho discordância”. Segundo ele, “nenhum parlamentar na eleição passada foi tão prestigiado quanto ele no partido, inclusive, a nível nacional, já que ele era vice-presidente”.