Hora da verdade – Ex-comissário palaciano e deputado cassado por conta do seu envolvimento no escândalo do “Mensalão do PT” – a acusação é da Procuradoria Geral da República –, o petista José Dirceu de Oliveira e Silva, conhecido nos tempos do anonimato como Pedro Caroço, é a estrela da programação do SBT nesta quarta-feira (20), véspera do feriado prolongado da Páscoa. Após o capítulo da novela “Amor e Revolução”, Dirceu aparecerá em depoimento gravado relatando sua prisão em 1969, durante a ditadura militar, e o período em que viveu exilado em Cuba e na clandestinidade no Brasil.
No vídeo que o SBT levará ao ar, José Dirceu traça paralelo entre o período em que foi preso, quando a prática de tortura não era tão presente, e o retorno do método usado pelos militares nos anos seguintes. “Quando chegamos ao Dops houve uma sessão de pancadaria, de chutes”, disse o ex-ministro da Casa Civil. “A comida era uma lavagem, a cela era pra ter pneumonia e tuberculose. Percebemos que aquilo já era prenúncio do que estaria pra começar de tortura e da ditadura”, completa Dirceu ao comentar sobre as más condições do local onde ficou preso, em unidade do Exército.
Na gravação de mais de uma hora, que será utilizada em outros capítulos da novela, José Dirceu fala também sobre as horas que precederam sua prisão, assim como de outros companheiros de luta armada, durante congresso da União Nacional dos Estudantes. “Nós recebemos a informação de que o lugar estava cercado e decidimos não sair. Fomos todos presos”, afirma o petista.
Sobre o monitoramento do congresso da UNE, o homem que prendeu José Dirceu conversou reservada e informalmente como editor do ucho.info, no final de 2001, em um escritório de advocacia no centro da cidade de São Paulo. Aquela foi a primeira conversa com a imprensa de Herwin de Barros, Ex-agente do Dops e agora advogado, Herwin de Barros sentiu-se à vontade na primeira conversa que teve com um jornalista desde o episódio de Ibiúna, onde aconteceu o evento da UNE.
Frio e calculista, dono de voz grave e pausada, Herwin de Barros é um adepto de um linguajar castiço, o que lhe obriga a fazer uso de palavras que rebuscam seus depoimentos. O encontro foi acompanhado por um ex-agente penitenciário de São Paulo, que aproveitou as pausas determinadas por Herwin para relatar a verdade sobre o massacre do Carandiru, episódio em que foram mortos mais de 300 detentos da unidade prisional que passou para a história no rastro de uma covarde carnificina autorizada pelo então governador Luiz Antônio Fleury Filho.
Metódico em seus relatos, Herwin de Barros, antes do final da conversa, acabou traçando um perfil de José Dirceu ao detalhar a operação que resultou na prisão de alguns dos participantes do congresso da UNE. “Eu sabia que ele [Dirceu] era covarde e por isso fui desarmado para Ibiúna. Chegando lá, disse você está preso. Por favor, me acompanhe”, declarou o algoz de José Dirceu.