(*) Ucho Haddad –
Está cada vez mais difícil compreender a alta da gasolina em todo o País. E essa dificuldade cresce à medida que os inquilinos do Palácio do Planalto tropeçam em explicações cada vez menos convincentes e que há muito não aparecem nos postos de combustíveis. A primeira recente declaração sobre o tema partiu da presidente Dilma Rousseff, que garantiu que o preço da gasolina permaneceria estável.
Apresentada ao eleitor brasileiro como o melhor quadro do PT para a corrida presidencial de 2010, mas tida nos bastidores do poder como uma especialista no setor de energia – foi nessa toada que lhe deram o comando do Ministério de Minas e Energia – Dilma parece estar honrando as palavras de seu mentor eleitoral, o messiânico Lula, que disse ser ela a garantia de continuidade de um governo que abusou da mitomania e da pirotecnia discursiva. Essa combinação de quesitos fez com que os brasileiros acreditassem nas insustentáveis palavras da neopetista.
Enquanto a inverdade balbuciada por Dilma passava incólume, o presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli de Azevedo, contrariou a patroa e afirmou que o preço da gasolina poderia subir a qualquer momento, caso a cotação do petróleo no mercado internacional continuasse nas alturas. Diante de insuportável saia justa, Dilma preferiu não partir para o confronto e escalou o ministro Guido Mantega, da Fazenda, para encarar o desafio de desmentir Gabrielli. E uma onda de novas inverdades surgiu na cena política nacional. Longe de estar convencido de que a presidente estava certa, Mantega foi menos mentiroso ao dizer que o preço da gasolina não subiria em abril. Acontece que depois de abril há outros oito meses no ano, tempo suficiente para a inflação fazer os estragos que quiser nessa barafunda chamada Brasil.
A tentativa de Guido Mantega de ludibriar a opinião pública durou pouco, pois não há mentira que resista à verdade que movimenta as bombas dos postos de combustíveis de todo o País. E essa verdade significa desembolsar R$ 3 por um litro de gasolina. Acontece que o estoque de pílulas de messianismo que Lula deixou no almoxarifado presidencial precisava ser poupado, uma vez que o projeto de poder do PT prevê ficar no timão da política verde-loura durante duas décadas, pelo menos.
Foi então que surgiu uma nova desculpa. A escassez de etanol, misturado à gasolina na proporção de 25%, foi guindada à condição de mentira da vez. Novamente insisto no uso do vernáculo “mentira”, pois é sabido desde meados de 2010 que o preço do açúcar no mercado internacional tem forçado a redução da produção de etanol. Como no mundo capitalista não há quem madrugue para colocar fogo no dinheiro ou dar as costas para o lucro, por questões óbvias os usineiros passaram a produzir mais açúcar para atender a doce demanda do planeta.
Desde que a nossa querida e amada Botocúndia caiu nas mãos dos arrogantes e soberbos petistas, falta de planejamento passou a ser a tônica do cotidiano. Prova maior é o risco eminente que o País corre de ser palco de um enorme fiasco durante a Copa de 2014, uma vez que atraso é o que não falta no calendário das obras. E situação idêntica se repete no caso da gasolina, do etanol e do açúcar.
Deixando a Copa de lado e voltando para a razão deste artigo, não era missão das mais difíceis e complexas detectar que em algum momento faltaria etanol para misturar à gasolina. Quando o assunto da alta do preço da gasolina ganhou as manchetes dos jornais, recordei-me de uma cena que presenciei dias atrás, em São Paulo, que com muita facilidade explica o que os herdeiros de Aladim que recheiam a equipe de Dilma Rousseff não conseguiram perceber.
Há duas semanas, deparei-me com uma ambulante vendendo cocadas aos frequentadores de um conhecido café na região dos Jardins, porção nobre e concorrida da Pauliceia Desvairada. Em sua gazeta, que por certo se repete dia após dia, a vendedora anunciava a doce guloseima por R$ 1 cada. Como se fosse uma especialista em marketing, a perambulante das cocadas tentava atrair a atenção dos eventuais compradores com uma frase de efeito, mas aterrorizante. Dizia ela que na semana seguinte o preço estaria 50% maior, pois o açúcar já estava mais caro.
Esse cenário de tantas inexplicabilidades mostra que, a exemplo do álcool, o poder não apenas embriaga, mas torna míope e obtuso o raciocínio. Porém, o que mais assusta é que os donos do poder não entendem de cocada e tampouco saem às ruas, onde comparecem para ouvir a voz do poço apenas quando necessitam cabalar votos. E mesmo com o açúcar em alta, Dilma e seus diletos companheiros acreditam ser a última cocada do tabuleiro da baiana.