(*) José Nêumanne Pinto –
Tarefa sinalizada pelo PT de voltar à Prefeitura e tomar o governo de São Paulo está sendo muito facilitada pelo empenho de Kassab, Alckmin, Serra e Aécio em desmanchar o que resta de oposição
Este fim de semana foi pródigo em meios sinais, que valem como inteiros para quem quiser entendê-los. A eleição de Ruy Falcão para a presidência nacional do PT deixou claro que, no partido de Lula e Dilma, manda quem pode – no caso, José Dirceu – e quem tem juízo, inclusive o ex e a atual presidente, bate palmas. Mais relevante ainda foi a volta de quem nunca de fato saiu, Delúbio Soares, guardião das joias da coroa petista. A escolha de um militante insignificante, embora egresso do maior Estado da Federação, deu a entender que os mandachuvas do Planalto agora querem invadir redutos no Viaduto do Chá e no Morumbi. E o perdão ao inocentado, com destaque para a frase do secretário-geral da Presidência, Gilberto Carvalho – “se ele voltar a errar, o partido, da mesma forma que o recebeu de volta, vai ter que puni-lo de novo” – mostrou que o governo federal e o PT estão convictos de que o mal que fizeram não lhes fará mais mal nenhum.
Se “frei” Gilberto, Delúbio, Dirceu e seus asseclas têm, ou não, razão, só o futuro dirá. Mas duas coisas é preciso reconhecer desde já. Primeiro: de fato, o domínio total sobre o Estado brasileiro passa pelo desmanche da oposição nas oficinas sediadas em Piratininga. Em segundo lugar, as tarefas de voltar à Prefeitura e tomar o governo estadual têm sido bem facilitadas pelos adversários que até agora impediram que isso ocorresse. Em vez de reunir os cacos do partido e fazer dele o núcleo de uma oposição digna do nome, José Serra e Aécio Neves travam uma luta de dardos verbais e manobras de bastidor que só os descredencia.
Ajuda maior aos petistas do que a deles, contudo, tem sido dada por dois dos mais representativos líderes dos quais a oposição depende para manter algum fôlego na luta pela manutenção de algo semelhante a um Estado Democrático de Direito nesta República insana: o governador paulista, Geraldo Alckmin (PSDB), e o prefeito paulistano, Gilberto Kassab. Em vez de fortificar o PSDB, Alckmin resolveu enfraquecer o antecessor, José Serra, com golpes de mesquinha vingança.
O prefeito fez pior. Após ter batido o ex-governador no primeiro turno e a ex-prefeita petista Marta Suplicy no segundo, mercê da preferência do eleitor, conquistada numa administração competente, escolheu garantir o futuro político abrindo as portas para um adesismo inadequado e subalterno. Nada garante que, colhidos os frutos da adesão, Dilma reserve a quem aderir lugar à mesa do banquete do poder. Pode até ser que ela desconheça a sentença de Napoleão Bonaparte, que, ao mandar fuzilar um inimigo que lhe levou informações, ensinou: “Do traidor só se aproveita a traição”. E se ela souber e decidir aplicar?