Imprensa sensacionalista ainda fatura com prisão de jornalista, mas não cobra mudanças nas leis

Vergonha total – Diversas emissoras de televisão aproveitaram a prisão do jornalista Antônio Pimenta Neves, ocorrida na noite de terça-feira (24), para abusar de maneira torpe do sensacionalismo, não sem antes alimentar uma insana guerra pela audiência. Apresentadores de programas policialescos pegaram carona no caso e ignoraram o bom senso no momento de comentar à exaustão o crime cometido pelo ex-diretor de redação do jornal “O Estado de S. Paulo”.

Apostando na tese de que a desgraça alheia é o consolo da maioria, as emissoras não se incomodam com a enxurrada de besteiras que é despejada na casa do telespectador, pois o que importa é o volume de dinheiro que entra nos cofres de cada uma das empresas de comunicação.

O que esses veículos deveriam fazer, mas não fazem, é liderar um movimento para mudar a Lei das Execuções Penais (LEP), que no caso em questão poderá colocar Pimenta Neves em liberdade condicional dentro de menos de dois anos. Condenado a quinze anos de prisão, o assassino de Sandra Gomide poderá requisitar a progressão de pena após cumprir um sexto da pena. Ou seja, após trinta meses de cerceamento da liberdade. Acontece que Pimenta Neves já cumpriu sete meses de prisão, período que será descontado por ocasião do requerimento da progressão penal. Em outras palavras, o jornalista poderá gozar do benefício do regime semiaberto em aproximadamente vinte e três meses.

Pode parecer um acinte ter Pimenta Neves de volta ao convívio social em tão pouco tempo, mas quando isso acontecer será respeitado o ordenamento jurídico do País, que prevê de forma clara o direito do condenado de requerer a progressão de pena, como forma de se reintegrar à sociedade. O que normalmente não acontece.

Fora isso, os advogados de defesa devem protocolar na Justiça um pedido de prisão domiciliar, sob a alegação de que o ex-diretor de redação do jornal “O Estado de S. Paulo” sofre de problemas cardíacos, hipertensão e depressão.

Às emissoras de televisão que se dedicam a esses programas sensacionalistas não interessa acabar com o status quo que domina a Justiça brasileira, pois se assim o fizessem eliminariam uma inesgotável fonte de matérias jornalísticas. Ademais, os veículos da imprensa pecam ao não cobrar do Estado uma solução definitiva para a crescente marginalização da sociedade, que se dá não apenas pela desigualdade que impera no País, mas especialmente porque a sensação de impunidade que grassa nessa tresloucada Terra de Macunaíma empurra o cidadão para o mundo das transgressões.