Interesses escusos – O impeachment de Fernando Collor de Mello “não é tão marcante” para a história. Foi com essa frase que o presidente do Senado Federal, José Sarney (PMDB-AP), justificou a ausência de registro de cassação do mandato do ex-presidente, hoje senador pelo PTB de Alagoas, do “túnel do tempo”. A exposição permanente da história do Senado Federal e do Congresso foi reinaugurada na tarde desta segunda-feira (30), mas sem os registros de 1992.
Sarney foi mais específico em sua declaração. Disse que o impeachment foi um “acidente que não deveria ter acontecido na História do Brasil”. Esta é a segunda vez que o Senado tenta apagar o fato no mesmo “túnel do tempo”. A justificativa é no mínimo um erro conceitual do senador em defesa de um colega.
Em 2007, quando Collor de Mello assumiu o mandato de senador da República, foram retirados os registros em que o Senado Federal teve participação imprescindível. Por pressão de políticos e, especialmente da opinião pública, os fatos retornaram à exposição. Com a modernização do espaço, voltaram a sumir. São dezesseis painéis que mostram imagens desde as antigas sedes do Senado à atual Praça dos Três Poderes.
O fato de rasgar a história da República para cerca de cinco mil visitantes diários do Senado é controverso. No mínimo atende a interesses políticos inconfessáveis. Na atual legislatura estão assentados personagens vivos da turbulenta fase da política brasileira, além do próprio Collor. Estão lá o senador Itamar Franco (PPS-MG), que assumiu a Presidência com a vacância do cargo, e o senador Lindberg Farias, à época o líder estudantil da UNE que liderou os chamados “cara pintadas”.
O impeachment de Collor, que teve como um dos motivos o relatório final da “CPI do PC”, foi aprovado e nele constava a informação de que o presidente e os familiares tiveram despesas pessoais pagas pelo dinheiro recolhido ilegalmente pelo “esquema PC”, que distribuía tais recursos por meio de uma intrincada rede de “laranjas” e de “contas fantasmas”.
Afastado da presidência em 2 de outubro, foi julgado pelo Senado em 29 de dezembro de 1992. Como último recurso para preservar os direitos políticos, Collor renunciou ao mandato antes do início do julgamento, mas a sessão teve continuidade. O julgamento foi polêmico e alguns juristas consideraram que o julgamento, após a renúncia, não deveria ter acontecido. Foi condenado à perda do cargo e a uma inabilitação política de oito anos pelo placar de 76 votos a 5 numa sessão presidida pelo presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Sydney Sanches.