Recuo da inflação é temporário e comemoração palaciana não traduz a realidade do cotidiano

Para inglês ver – As autoridades econômicas do governo federal estão eufóricas por conta das seguidas notícias positivas da semana, mas o brasileiro não deve levar a sério que vem sendo noticiado, pois como garante a sabedoria popular, alegria de pobre dura pouco. Na última segunda-feira (20), a agência Moody’s anunciou a elevação do “rating” (nota de risco de crédito) da dívida soberana brasileira, que saiu de “Baa3” para “Baa2”.

De acordo com a agência de classificação de riscos, o Brasil já é considerado um país “grau de investimento”, ou seja, um porto seguro para investidores. A perspectiva positiva que acompanha a nova classificação significa que, em nova revisão, são grandes as chances de que o “rating” do País melhore novamente.

A Moody’s levou em consideração o ajuste fiscal adotado pelo governo federal e o combate à inflação, mas a realidade do cotidiano é bem diferente. Na terça-feira (21), o IBGE divulgou nota em que afirma que houve queda da inflação. O IPCA-15 (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo-15) subiu 0,23% em junho, depois de elevação de 0,70% em maio. No mesmo mês de 2010, o indicador registrou aumento de 0,19%. Por outro lado, o acumulado dos últimos doze meses é de 6,55%, o que supera o teto da meta de inflação fixado pelo governo, que é de 6,5%. Somente em 2011, a inflação acumulada é de 4,1%. Por sua vez, o IGPM, que serve como indexador dos contratos de aluguel, registrou deflação em maio.

Esse cenário de positivismo tem prazo de validade absolutamente curto, pois analistas do mercado financeiro apostam na retomada da inflação a partir do segundo semestre, movimento que deve começar em agosto, também conhecido como o mês das bruxas. A avaliação da agência Moody’s parece um tanto equivocada, pois o governo federal, que há meses anunciou corte de R$ 50 bilhões no orçamento, continua alimentando a gastança. Fora isso, o anunciado freio no consumo não passa de mera figura de retórica, pois bancos oficiais continuam torrando fortunas em publicidade para anunciar linhas de crédito, que caminham na contramão do discurso oficial.

Ademais, a volúpia arrecadatória do governo central, que taxa de maneira absurda o setor produtivo e o comércio, é mais um ingrediente para derrubar a análise da Moody’s. Prova maior está na possibilidade cada vez mais próxima da realidade de o Comitê de Política Econômica do Banco Central, o Copom, elevar a taxa básica de juros (Selic) na próxima reunião.