CPI à vista – A nova crise política do governo poderá provocar efeitos colaterais não só no Palácio do Planalto, como no rearranjo político da base do governo, na estrutura interna do Partido da República e também nos interesses do ex-presidente Lula da Silva. O ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento (PR), é indicação pessoal do criador da presidente Dilma Rousseff.
Lula da Silva forçou a candidatura de Nascimento ao governo do Amazonas e só não conseguiu pela relutância do senador Eduardo Braga, hoje no PMDB. Braga fez seu sucessor, Omar Aziz (PMN), que hoje é adversário do senador. Lula teria ligações pessoais com o ministro dos Transportes, que afirmou no domingo que desconhecia o esquema de arrecadação de propina. Como Nascimento foi obrigado a concorrer à reeleição ao Senado, Lula pediu para que ele retornasse ao ministério.
Para não deixar Lula da Silva em situação constrangedora, a presidente recebeu, nesta segunda-feira (4), o amazonense Alfredo Nascimento. Ouviu as explicações e eximiu-o de culpa no escândalo de corrupção no DNIT. Ao final da audiência, Dilma divulgou uma nota na qual expressou confiança em Nascimento.
Dentro do Partido da República o escândalo provocado pelas denúncias terá consequências na bancada do partido no Congresso Nacional. Hoje, comentava-se que haverá consequências inclusive para o deputado Valdemar da Costa Neto (SP), o “Boy”, que preside a agremiação sob mão de ferro. Costa Neto esteve envolvido no “Mensalão do PT”, que abalou as estruturas do governo Lula da Silva em 2005. E só escapou da cassação porque renunciou ao mandato.
Com a fragilidade da bancada, que nesta segunda-feira decidiu cancelar todas as audiências nos ministérios, é possível que outros partidos venham a reclamar o cargo de ministro dos Transportes. Dilma fez o que manda a prudência para evitar novas dores de cabeça. Dá apoio a Alfredo Nascimento para evitar nova frente de disputas. Nos bastidores, o que se comenta é que nas hostes petistas do alto escalão a insatisfação com o desempenho do ministro é recorrente. O PT, como se sabe, é mais fisiológico que o insaciável PMDB de José Sarney, Renan Calheiros, Romero Jucá e Henrique Eduardo Alves.
Na oposição, o líder do PSDB no Senado, Alvaro Dias (PR), garantiu que os tucanos solicitarão audiência pública com a presença do ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento, e do diretor-geral do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), Luiz Antônio Pagot. A finalidade é para que ambos prestem esclarecimentos sobre as denúncias de corrupção e superfaturamento de obras envolvendo esse ministério.
No âmbito da Câmara, o deputado tucano Duarte Nogueira (SP) já fala em elaboração de requerimento que será encaminhado à Comissão de Serviços de Infraestrutura (CI). Para ele, a investigação tem de ser “profunda”. Também, poderá ser remetida uma representação ao Ministério Público para iniciar as investigações. Além disso, deverá ser encaminhado um requerimento à Polícia Federal e um pedido de auditoria especial para o Tribunal de Contas da União (TCU).
A assessoria de imprensa da Presidência informou que o ministro Alfredo Nascimento está incumbido de promover a investigação de denúncias. Dentre elas, de que a cúpula do ministério utilizava sobrepreço nas licitações e cobrava propina entre 4% e 5%. A assessoria não soube dizer se a reunião de Dilma com seu ministro ocorreu hoje ou ontem e se foi no Palácio do Planalto ou no da Alvorada. “O governo manifesta sua confiança no ministro Alfredo Nascimento”, diz o texto lido por uma assessora. “O ministro é o responsável pela coordenação do processo de apuração das denúncias feitas contra o Ministério dos Transportes”, concluiu.