Fio trocado – A cada novo episódio fica claro que a política não mais consegue sobreviver sem a presença do marketing. Para chegar ao Palácio do Planalto, após três fracassadas tentativas, Luiz Inácio da Silva se submeteu, em 2002, às invencionices de Duda Mendonça. Sob as ordens do marqueteiro baiano, Lula foi vendido à opinião pública com uma nova roupagem. Saiu de cena o “sapo barbudo” que no palco incitava greves, mas nos bastidores fazia acertos dúbios com os empresários, para entrar no set eleitoral um político moderno, louco pelas benesses do capitalismo e complacente com a corrupção, desde que praticada por companheiros e apaniguados.
Logo depois de chegar ao poder central, Lula deixou de lado o discurso contestador de outrora e passou a adular antigos inimigos. Foi exatamente assim que o então presidente agiu diante do ataúde de Roberto Marinho, dono da Rede Globo, que na eleição de 1989 mandou o sonho político de Lula pelos ares ao embarcar no embuste de campanha produzido pela equipe de Fernando Collor de Mello. E no Rio de Janeiro, onde o dono da Vênus Platinada foi velado e sepultado, Lula se debulhou em lágrimas e falou da importância de seu rpetérito algoz.
Como se sabe, descaramento é mercadoria farta quando o assunto é política. E foi com esse ingrediente que Lula da Silva desembarcou em Juiz de Fora, onde exibiu sua conhecida face lenhosa diante do caixão do senador e ex-presidente Itamar Franco, que faleceu em São Paulo na manhã do último sábado (2) por causa de complicações decorrentes de um tratamento contra leucemia.
Com o impeachment de Fernando Collor, que foi despejado do Palácio do Planalto no rastro dos escândalos de corrupção que marcaram o governo de então, Itamar Franco assumiu o poder, mas não escapou da peçonha do PT, que sob o comando de Luiz Inácio da Silva exigia a saída imediata do governo que se fragilizou com as denúncias feitas por Pedro Collor de Mello, irmão do presidente cassado. Foi o PT de Lula o maior crítico do Plano Real, que sob a batuta de Itamar Franco afugentou a inflação e restabeleceu a normalidade econômica do País.
No velório de Itamar Franco, em Juiz de Fora, a opinião pública deixou claro que a memória do brasileiro é absolutamente curta e com prazo de validade menor ainda, não sem antes deixar evidente a força do marketing político. Fernando Collor, que foi à cidade mineira para se despedir de seu então vice, deixou a cerimônia sob intensa vaia. Já Lula, populista e boquirroto como sempre, foi aplaudido.
Se comparados com os incontáveis escândalos de corrupção da era Lula da Silva, os que derrubaram Fernando Collor poderiam ser dirimidos em qualquer Juizado de pequenas causas, tamanha foram as barbaridades que ocorreram durante oito anos com a anuência do ex-metalúrgico.
O cenário visto no final de semana deixa evidente que na hora da escolha do veneno, o povo sempre escolhe o mais letal. E o reverencia efusivamente antes da morte. Enfim, como disse certa feita um conhecido e ébrio filósofo de botequim, “nunca antes na história deste país”.