Pedra no caminho – Por determinação da presidente Dilma Vana Rousseff, o governo brasileiro saiu à francesa da discussão que toma conta da eventual fusão Pão de Açúcar-Carrefour, que em tese, se concretizada, poderá contar com investimento de quase R$ 4 bilhões do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, através da subsidiária BNDESPar. Tão logo o assunto ganhou as manchetes, a opinião pública passou a questionar o uso de dinheiro público em um bilionário negócio privado, que certamente provocará demissões.
No começo das discussões, a ministra-chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, disse que a eventual participação do BNDES no negócio não utilizaria dinheiro público. Pelo que se sabe, o BNDES é público e opera única e exclusivamente com dinheiro público, inclusive com verbas do FGTS e do Fundo de Amparo ao Trabalhador, o FAT. Ou seja, a petista Gleisi teria acertado mais se optasse pelo silêncio, pois esse é um assunto em que só cabe palpites de quem entende do riscado.
Como a Esplanada dos Ministérios foi transformada nos últimos oito anos em terreno fértil para o besteirol, o ministro Guido Mantega, da Fazenda, não deixou escapar a chance e comentou a fusão dos dois gigantes do setor supermercadista. Como se reverberasse a fala da companheira Gleisi Hoffmann, o ministro da Fazenda disse que o negócio não utilizará dinheiro público. Ora, Guido Mantega deve estar sofrendo com o calor que domina a Europa – o ministro está em Londres –, pois o BNDES continua sendo um órgão eminentemente público.
Esse palavrório desconexo que emana dos ministérios não passa de missa encomendada pelo Palácio do Planalto, que deseja escapar dos respingos da briga entre o empresário Abílio Diniz e o grupo francês Casino, controlador do Pão de Açúcar. Depois de anunciar sua participação no negócio, o BNDES agora destaca que o investimento só correrá se o Pão de Açúcar estiver no controle da nova empresa que será criada a partir da fusão.
Como o Casino já anunciou que não abirá mão de assumir o controle acionário do Pão de Açúcar, as chances de o negócio vingar são cada vez menores. Fora isso, o Casino tem feito firmes e polpudas investidas no mercado acionário para comprar ações da Companhia Brasileira de Distribuição, controladora do Pão de Açúcar. A última compra de ações por parte do Casino foi de nada desprezíveis US$ 1 bilhão.