(*) Gilmar Corrêa –
O Brasil possui quase 200 milhões de habitantes. Figura na lista de quatro países com francas possibilidades de se tornarem líderes mundiais nas próximas duas décadas. É o maior exportador de carne, de commodities, rivaliza com os Estados Unidos em várias áreas, promete tirar da miséria milhares de família porque “país rico é pais sem miséria”.
Pois bem: apesar dos péssimos indicadores da educação, possuímos ilhas de conhecimentos respeitáveis e nossos empresários dão todos os dias exemplos de capacidade administrativa. Não bastasse isso, o brasileiro é um povo cordato, capaz de superar dificuldades cotidianas.
Nosso calcanhar de Aquiles está na área pública. O Estado com suas prefeituras, seus governos estaduais e a União abocanha trilhões em impostos. É uma máquina insaciável com poucos resultados práticos. Sua incompetência é notória que dispensa maiores comentários.
Esse ser subjetivo, que a gente não sabe exatamente o que é, é representado pelo prefeito, pelos juízes, ministros, secretários, promotores, governadores, presidente. Em tese, gente como a gente, que faz parte de todas as estatísticas sociais e econômicas.
Na prática, esse pessoal é bem diferente do brasileiro normal – aquele que paga suas dívidas, trabalha, pega ônibus, viaja, enfim, responde pelas suas responsabilidades. São pessoas alienadas do nosso cotidiano, quase sempre incompetentes e insensíveis para os problemas da grande massa.
O mundo deles é diferente do nosso. O ambiente em que vivem não exala o mesmo ar que respiramos. São seres alienígenas em pele de humanos capazes de chorar, de sorrir, de se sensibilizar. O mundo deles é tão pequeno que figuras se repetem em cargos públicos e nos Parlamentos, ano após ano.
São poucos, mas estão na vida pública como moscas que trocam de açucareiro. É bem verdade que se reproduzem com muita facilidade. Por isso é muito estranho que, mesmo com trocas de governos, ou melhor, do açucareiro, um número considerável desses seres se mantenha na crista da onda pública. O motivo só pode ser um. Seria por conta de uma série de compromissos, quase sempre suspeitos, construídos ao longo de décadas.
Este círculo vicioso enredou também a presidente Dilma Rousseff. A sua própria base de governo apresenta uma bandeja com poucas opções de alienígenas. Gente carimbada com vícios, compromissos e históricos quase sempre desabonadores, muito diferentes do que se exige na vida real.
É o que está acontecendo para os cargos no Ministério dos Transportes e seus órgãos e empresas subordinadas. As opções são tão poucas que a impressão que se tem, é que não há brasileiro competente, sério e ético para tocar a coisa pública.
Lamentável que essas limitações políticas aconteçam mesmo num início de governo. Triste saber que esta á regra comum, que se copia em todos os cantos do Brasil. Infelizmente, com maior repercussão no Planalto Central.