Superfaturamento de obras no Ministério dos Transportes serviu para financiar campanhas petistas

Metralhadora giratória – Muitos brasileiros, em especial os incautos, ficaram surpresos diante da celeridade com que a presidente Dilma Rousseff resolveu o escândalo de corrupção que chacoalhou o Ministério dos Transportes e culminou com a demissão do então ministro – agora novamente senador – Alfredo Nascimento (PR-AM). Diferentemente do que ocorreu por ocasião do imbróglio envolvendo o petista Antonio Palocci Filho, o milionário consultor financeiro que respondia pela Casa Civil, a fritura de Nascimento demorou alguns poucos dias, mas contou com uma declaração de apoio da presidente ao ex-ministro.

A decisão de encurtar o processo surgiu no rastro das ameaças de Luiz Antônio Pagot, diretor-geral do DNIT, que no começo da semana aterrissou no Senado Federal disposto a acionar a metralhadora verborrágica e a revelar o esquema de superfaturamento de obras e cobrança de propinas. Pagot, que tempos atrás sugeriu que se incendiassem as praças de pedágio para pressionar as concessionárias a construírem uma duplicação de estradas no interior do Paraná, pode se transformar a qualquer momento em um homem-bomba à beira do Palácio do Planalto.

O primeiro alvo dessa explosão política será o ministro das Comunicações, Paulo Bernardo da Silva, marido da ministra-chefe da Casa Civil, a estreante Gleisi Hoffmann. Luiz Antônio Pagot alega que parte dos aditivos de obras – debitados na conta do Partido da República – foram criados para financiar algumas campanhas petistas, possivelmente a de Dilma Rousseff e a da própria chefe da Casa Civil, que se elegeu senadora pelo Paraná. Para produzir os aditivos recebia “ordens superiores”, muitas delas disparada por Paulo Bernardo, então ministro do Planejamento na era Lula da Silva.

Esse quadro explica o repentino e inusitado comunicado da Casa Civil divulgado há dias para explicar a decisão de Pagot sair de férias, mesmo depois da decisão da presidente Dilma Rousseff demiti-lo da direção do DNIT. O recado de Pagot chegou de maneira clara do Planalto, mas a neopetista Dilma por certo não compreendeu ou, então, desconhece o tamanho do problema que ronda o seu gabinete.

Paulo Bernardo é considerado um mestre na arte de escapar de confusões. Em 2002, o atual ministro das Comunicações deixou o governo de José Orcírio dos Santos, o Zeca do PT pouco antes de explodir os escândalos de caixa 2 que quase levaram o governador de Mato Grosso do Sul ao impeachment. Em 2009, foi acusado pelo ex-governador Roberto Requião de propor o superfaturamento de um trecho ferroviário. Em 2010, durante a campanha de Gleisi ao Senado, teve o nome envolvido em rumores sobre compra de emissoras de rádio com dinheiro vivo.