Efetivado no Transportes, o número 2 da pasta, por dever de ofício, sabia do superfaturamento

Fugiu da raia – O senador Blairo Maggi (PR-MT) ligou do plenário do Senado, no final da tarde desta segunda-feira (11), para a presidente Dilma Rousseff e agradeceu o convite para a pasta dos Transportes. O plenário estava quase vazio e foi possível ver Maggi ao telefone durante vários minutos. Prenúncio de novidade no ar, em especial para uma “segundona” em que, geralmente, a escassez de notícias é grande.

Voltando rapidamente no tempo, o senador foi convidado pela presidente e respondeu que “achava que tinha alguns impedimentos”. Maggi aproveitou o final de semana para fazer consultas e chegou à conclusão que não dava. Em outras palavras arregou. No início da noite, a presidente distribuiu nota efetivando o secretário-executivo do Ministério dos Transportes, Paulo Sérgio Passos, para assumir em caráter definitivo.

“Acabei de falar com a presidente Dilma agora para agradecer o convite que ela me fez na quarta-feira passada. Expliquei a ela as razões por que não aceitei o convite. E me coloquei à disposição da presidente para ajudá-la nesse processo que está vindo pela frente. E, portanto, estou agora, a partir de hoje, desobrigado dessa função do convite. E vamos em frente. O Brasil não pode parar em função disso”, afirmou o senador, em entrevista à tarde, antes de Dilma anunciar o número 2 como efetivo.

Desde a última semana, o convite feito ao senador Blaggi tinha dois sentidos. No tabuleiro político objetivava agradar o padrinho de Luiz Antônio Pagot, ejetado da direção-geral do DNIT no vácuo das denúncias de corbança de propina. Dilma sabia que Maggi não aceitaria o convite e torcia para isso. Tinha sua própria preferência, o secretário-executivo Paulo Sérgio Passos, homem com relativa intimidade com o ministro das Comunicações (ex do Planejamento), Paulo Bernardo da Silva.

Na conversa telefônica com Dilma Rousseff o senador mato-grossense destacou as questões éticas. “Eu tenho problemas na questão da Antaq. É uma agência que é subordinada ao Ministério dos Transportes, ela regula e ela faz as concessões na área de navegação, de portos. E eu trabalho nessa área. A empresa da qual eu faço parte, ela tem negócios dentro dessa área. Não acho que ético alguém sentar na mesma mesa para decidir nos dois sentidos. Coloquei isso a presidente e ela disse: ‘Ó Blaggi, você tem toda razão. Isso não dá para se aceitar ’. E, portanto, não tem como levar adiante o convite que foi feito.”

Blairo Maggi informou que um novo nome poderá ser pinçado de uma reunião a se realizar na quarta-feira (13), mas lembrou que a presidente também poderá sugerir outro nome. “Pode indicar alguém a qualquer momento, independente de conversar com o partido”, frisou o parlamentar.

Quanto à preferência do cargo de ministro dos Transportes ficar nas mãos do PR, a presidente não entrou nesse mérito. “Dentro do partido, na quinta-feira, é que nós voltaríamos a falar sobre esse assunto na quarta. Isso era uma decisão de quinta-feira. Agora, se o partido e alguns líderes estão falando diferente todo mundo tem a liberdade de falar sem problema nenhum.”

“Pagot vai falar”…

Vale lembrar que Luiz Antônio Pagot prestará esclarecimentos na terça-feira (12), o que explica o agendamento da reunião do partido para a quarta-feira. “Ele não é homem-bomba. Ele vai vir aqui e explicar tecnicamente como funciona a questão das obras. Como elas são colocadas na programação quais são os ritos que devem ser feitos e que não é o DNIT o órgão que define as políticas. Ele é um executor. É isso que ele vai explicar aqui e na Câmara também”, declarou Maggi.

Considerando que o DNIT é o executor, quem ordena a execução das obras é o Ministério dos Transportes. Contundo, quem manda no Ministério dos Transportes é a presidente. Pelo menos esse é o raciocínio lógico e cartesiano. Se a expectativa era – quiçá ainda não seja – de que Pagot aponte os responsáveis pelo esquema, o melhor a se fazer é desistir. “É uma questão de governo. O governo decidiu fazer obras. E aí tínhamos lá a programação de X obras. Agora é X + Y, o conjunto do governo. As áreas que são relacionadas a esses cronogramas, a esses programas elas são as responsáveis. Não adianta tirar as responsabilidades das pessoas. Ou fugir da responsabilidade. Tudo que foi decidido está escrito em algum lugar.”

A expectativa de Maggi é de que as explicações de Pagot esclareçam a questão do que está sendo dito sobre superfaturamento. “Como funcionam as obras. Como elas são licitadas e como é o acompanhamento e a execução final dessas obras. É isso que nós esperamos.”

Questionado pela reportagem do ucho.info sobre a existência de irregularidades no DNIT, Maggi respondeu afirmando que concorda que os responsáveis precisam ser identificados e punidos. “Sem dúvida nenhuma, mesmo que seja a minha mãe. Tá errado, tá errado. Eu não estou aqui defendendo coisa errada. Eu estou dizendo que as pessoas têm que ter a oportunidade de dizer o que elas fizeram. Agora, se tá errado. As barras da lei para quem está errado. Isso sempre foi assim. Eu, enquanto governador de Mato Grosso, sempre trabalhei assim.”

O Pagot virá ao Senado para dizer o que sabe e conduzir para alguma…? Insistiu a reportagem do ucho.info. “Ele vai dizer, estou ficando rouco de repetir. Ele vai vir aqui e mostrar como funciona e como é o procedimento da questão das obras. Como uma obra entra no programa de governo. Como ela é executada. Como ela muda de preço. É isso que ele tem que fazer amanhã (terça, 12).”

Com o convite de Dilma a Paulo Sérgio Passos, que aceitou a missão, é mister lembrar o que o deputado Anthony Garotinho (PR-RJ) questionou na semana passada. “Se o número um fez, como o número dois não sabia?”, vociferou. Mais mistério no ministério.