Mal contado – A exemplo do que ocorreu nos últimos anos, o domingo (17) foi marcado por eventos em homenagem às vítimas do maior acidente da aviação brasileira, ocorrido em 17 de julho de 2007.
Diferentemente dos anos anteriores, as homenagens deste 17 de julho foram marcadas por diversas declarações dos familiares que se diziam aliviados com a decisão da Justiça de acolher as denúncias oferecidas pelo Ministério Público Federal contra a ex-diretora da Agência Nacional de Aviação Civil, Denise Abreu, e dois ex-executivos da companhia aérea, Alberto Fajerman (vice-presidente de Operações) e Marco Aurélio Castro (diretor de Segurança de Voo).
Representantes da Associação dos Familiares e Amigos das Vítimas do Voo TAM JJ 3054 (Afavitam) disseram que antes da recente decisão da Justiça a sociedade conhecia apenas as causas do acidente, mas que a partir de agora há culpados pela tragédia ocorrida no Aeroporto de Congonhas, na Zona Sul da capital paulista.
Faz-se necessário esclarecer que os dirigentes da Afavitam erram enormemente ao concentrar as atenções apenas nas decisões judiciais e do MP, pois a verdade dos fatos é bem diferente do que imagina a grande maioria. Como já noticiou o ucho.info, é no mínimo uma monumental irresponsabilidade acreditar que a diretora jurídica da Anac, Denise Abreu, tivesse competência técnica para liberar uma das pistas do mais movimentado aeroporto brasileiro. A liberação cabe à Infraero, que estranhamente não teve qualquer dirigente no rol de denunciados. O que explica a pressão do Palácio do Planalto, logo após o acidente, para que as investigações isentassem de qualquer culpa alguns integrantes do governo de Luiz Inácio da Silva.
Quando as notícias sobre o acidente apontavam para a culpa do governo federal, assessores palacianos, movidos pela covardia truculenta que marca o poder, passaram a fazer ameaças aos envolvidos na tragédia, como se no Brasil a palavra democracia inexistisse. E as ameaças foram de retaliações pessoais a eventual quebra de empresas privadas. Quem acompanhou o caso nos bastidores sabe com detalhes o que de fato ocorreu nas coxias do poder central em termos de pressão e outras práticas pouco recomendáveis.
De início tentou-se colocar a culpa nos pilotos do Airbus A320 da TAM, até porque, fora de centros espíritas, mortos não falam e não têm como se defender. Há nesse episódio um sem fim de incongruências, a começar pela denúncia oferecida contra Denise Abreu, que não teve a aludida culpa comprovada em nenhuma das investigações oficiais, a começar pela do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa).
Segundo apurou a reportagem deste site, o comandante da Aeronáutica, brigadeiro Juniti Saito, teria telefonado para Denise Abreu com o objetivo de se solidarizar com a ex-diretora da Anac. O que mostra que o acolhimento das denúncias ocorreu com celeridade como forma de evitar a prescrição de parte dos crimes relacionados ao acidente ocorrido no aeroporto paulistano.
Em relação à prescrição, o erro maior da Afavitam está em dar destaque às recentes acusações, pois no caso de os atuais acusados conseguirem provar em juízo as respectivas inocências, os verdadeiros culpados poderão facilmente escapar da responsabilidade.