Gerdau participa do “Conselhão” e sonha com o País no caminho do desenvolvimento industrial

Economia do sanduíche – “Qual é a opção que o país quer? Ele quer um país em que o Big Mac continue custando 42% mais no Brasil do que nos Estados Unidos ou quer um país industrializado. Essa é a definição que tem que ser feita”, questionou o industrial Jorge Gerdau Johannpeter ao término da 38ª reunião plenária do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES), com a presença da presidente Dilma Rousseff.

Questionado sobre o preço de um Land Rover no Brasil, que é dobro do que custa na Inglaterra, Johanpeter respondeu: “Big Mac atinge o globo todo, Land Rover é uma parcela pequena. Eu falo em Big Mac porque é uma medição que todo mundo consegue entender. O Land Rover a maioria das pessoas nem sabe o que é um Land Rover”, destacou.

Em relação a impostos cumulativos, verificado em folha de pagamento, por exemplo, Johannpeter comparou com outros países. “No mundo inteiro não tem impostos cumulativos. O sistema no mundo todo é de tetos financeiros não apenas físicos. Mas, realmente, tem uma caminhada enorme. São temas complexos, mas eu acho que hoje com o dólar como está todos esses atrasos de não ter feito os ajustamentos durante esses anos todos, faz com que venha à tona a não competitividade.”

Quanto à situação da crise norte-americana e a possibilidade de desestabilizar a economia no Brasil, o empresário analisa com cautela e acredita que “o risco existe”. Para ele, trata-se de um jogo político e deve ser bem feito. “Na realidade, esse cenário fora desse momento americano. É um cenário complexo. O mundial ainda não está fácil não. Consequentemente hoje o brasil tem que gerenciar como os outros países também. Países em desenvolvimento estão vivendo uma situação excepcional e isso faz com que haja todo esse fluxo financeiro. Nós devemos trabalhar mais com poupança interna do que poupança externa.”

A presidente Dilma voltou a dizer que não fará esforço para segurar o dólar. O ministro da Fazenda Guido Mantega chegou a acenar para que os especuladores tenham cautela. A queda do dólar, para o empresário, é atribuída ao cenário político mundial, que “no fim de semana não se entenderam. O mercado (nacional) saiu operando, segunda-feira, com o mau fim-de-semana que houve.”

Na opinião de Jorge Gerdau, o Brasil tem que definir limites para a entrada de capitais, apesar de reconhecer que o País precisa de capitais. “Como a balança comercial, por causa das commodities estão com preços excepcionais, de minérios etc. São macropolíticas que vão ser tremendamentes complexas. O País tem uma cultura de trabalhar faltando dólar, faltando divisas. Então nós passamos nos últimos 50, 70 anos, e nunca houve sobras. A não ser logo depois da segunda Guerra Mundial, houve um período de sobras de divisas. Mas de resto, na História do Brasil, sempre tivemos dificuldade de divisas.”

“Essa gestão toda é uma gestão completamente diferente. Como existem necessidades sociais é muito difícil não querer continuar a receber esse dinheiro. É uma mudança de cultura que o Brasil tem que trabalhar. É complexo, não é fácil. Se nós queremos um país desenvolvido nós teremos que ter uma indústria desenvolvida. Do modo que via nós estamos prejudicando o desenvolvimento industrial. No fundo, as políticas financeiras terão que obedecer a uma discussão de vontade política de que país nós queremos. Se é só pela visão financeira do fluxo de capitais. A gente poderia deixar como está. Porque a situação é cômoda a curto prazo. Mas numa visão a longo prazo é preciso ter políticas de desenvolvimento industrial, tecnológico e ter emprego de qualidade não depender apenas do commodity e do minério”, argumenta o industrial.

Ao analisar a balança do superávit histórico do setor industrial nós tínhamos mais de US$ 100 bilhões de superávit. E, hoje, nós temos já nesse período de curto prazo US$ 13 bilhões de déficit. Temos que chegar a números de US$ 30 a US$ 40 bilhões de déficit na balança comercial dos produtos industrializados. Eu acho que todos nós, evidentemente, enxergamos que não é esse País que nós queremos. Isso exige um esforço estratégico tremendamente importante. Nas correções tributárias, no aspecto de investimentos, no aumento da poupança nacional. São mudanças que ainda o País não terminou o debate”.

Paulo Skaf

O presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, Paulo Skaf, disse, ao encerrar a reunião do Conselho de Desenvolvimento que o ministro Guido esqueceu de falar um “pouquinho” da indústria na apresentação do cenário econômico. “Se ele fosse falar como está a balança comercial de manufaturas, e como está passando a indústria de transformação teria falado o ruim. Ele falou do lado bom das coisas que estão acontecendo. Esqueceu outro lado.”

Na questão de inovação é um aspecto fundamental, para o presidente da Fiesp. “Nós temos que ter no foco menos visão acadêmica e mais desenvolvimentista. Eu faria uma mudança. Além do Ministério da Educação e Ciência e Tecnologia eu colocaria o Ministério do Desenvolvimento.”

Skaf citou como o exemplo o pré-sal. “O que interessa é nós mandarmos pessoas para estudarem fora, se prepararem para o foco que nós precisamos para as pessoas voltarem para cá e serem úteis ao País. E não como muitas vezes acontece que tem uma bolsa se prepara e fica no exterior. Aí o Brasil não ganhou nada. Mas a presidente mostrou essa sensibilidade. Tanto é que ela citou a necessidade de focar mais as engenharias. Ou seja, mais a demanda de mercado. Sem dúvida é um programa bom que precisa aparar as arestas no sentido de a gente ter esses bolsistas preocupados com o Brasil. E não ir para o exterior e ficar por lá.”

Já com relação à tributação, para Skaf, Mantega se referiu ao Simples. “Eu entendo que há uma necessidade de aumentar a faixa do Simples, que hoje é de 2,4 milhões e tem que ir no mínimo para 3,6 milhões. Ele falou de ICMS, a minha leitura é que se referiu à resolução 72 do Senado Federal que aprovada com 4% na origem, passando o ICMS da origem para o destino acabaria com a guerra fiscal. E ele falou de desoneração da folha, que já falamos bastante que precisa desonerar de uma vez.”