Ianques na mira– O ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou nesta terça-feira (26) que se preocupa com a situação da economia mundial. Mais precisamente com o impasse em torno da dívida dos Estados Unidos. “Estamos passando por um momento delicado”, disse Mantega, durante a 38ª reunião plenária do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES), realizada no Palácio do Planalto, na presença da presidenta Dilma Rousseff. Ao término do evento que aconteceu no segundo andar do Palácio, Gleisi Hoffmann, Guido Mantega, Dilma Rousseff e Aloizio Mercadante não quiseram falar com a imprensa. O que demonstra que a presidente continuará a cochichar apenas para rádios do interior como estratégia de contato com a imprensa. O que é lamentável. Mantega reprisou que a guerra cambial não irá derrotar o Brasil.
O ministro da Fazenda disse que no quadro atual da economia mundial há dois segmentos. De um lado, os países avançados, com grandes dívidas e déficits expressivos, e, do outro, os emergentes, com taxas de crescimento significativas, acima de 4%. Mas nos próximos anos ele prevê que isso deverá mudar. Os países desenvolvidos deverão manter baixas taxas de crescimento. Mantega crê que entre 2012 e 2015 as taxas de crescimento serão insuficientes para atender às necessidades de aquecimento da economia, exceto para os países emergentes. “A estagnação atrapalha os emergentes, mas não a ponto de impedir o crescimento”, ressaltou.
Mantega sintetizou que a crise financeira está com uma nova configuração. Saindo do âmbito do setor privado e passando para o setor público, impactando na dívida dos países. “Não é uma situação simples e deverá se arrastar pelos próximos anos, com consequências para os emergentes.”
Sobre a crise entre o Legislativo e o Executivo dos Estados Unidos, Mantega tem esperança que até o dia 2 de agosto, ao findar o prazo para elevação do teto da dívida americana, o problema seja equacionado. Todas as economias sairão perdendo, caso o impasse persista. “Uma grande insensatez não conseguir resolver a situação. Confesso minha apreensão pelos rumos que as coisas estão tomando.”
Mantega também citou a crise europeia, que considera de difícil solução, mas também afirmou que programas para socorrer os países com problemas, como a Grécia, são “factíveis”. A duração do período de crise é longa, segundo o ministro. “Não devemos esperar um recuperação do Continente Europeu pelos próximos anos”, afirmou.
Guido Mantega afirmou que parte do superávit comercial dos EUA com o Brasil é resultado de triangulação. Trata-se de uma prática que faz com que um produto seja fabricado em um determinado país, mas que não vai direto ao país de origem, passando por um terceiro. “Países que estão sofrendo processos antidumping estão utilizando terceiros para exportar para o Brasil. Até os EUA estão sendo usados como país de triangulação.” Complementando que “talvez, por isso, os EUA hoje estão com superávit comercial em relação ao Brasil”, ressaltou Mantega. O governo observa de perto as triangulações e vai “tomar medidas importantes neste campo.”
Como de hábito, o ministro da Fazenda reiterou que o Brasil é um dos países mais bem preparados para enfrentar a crise. E argumentou que o País detém fundamentos econômicos sólidos, bem como forte mercado interno. Realidade diferente vivida pelo outros países, principalmente os que estão no leque dos desenvolvidos.
Com o objetivo de animar a plateia de empresários, Mantega tentou garantir que não permitirá que a guerra cambial desestabilize o País. “Não vamos deixar a guerra cambial nos derrotar, nem a guerra comercial.” Segundo o ministro, a economia brasileira já superou o período pós-crise e caminha para o fortalecimento fiscal. “Já são 12 anos que o Brasil tem um resultado primário bastante satisfatório, reduzindo o déficit nominal.”
A guerra cambial que travam as grandes potências é de causar preocupação, mas são as armas que elas [potências] encontraram para manter aquecidas suas respectivas economias. Enquanto contempla esse verdadeiro duelo de titãs, Guido Mantega poderia muito bem adotar algumas das medidas anunciadas para conter a valorização do Real frente à moeda norte-americana. Até porque, os investidores e o mercado financeiro não vivem apenas de promessas e anúncios evasivos. E Mantega dificilmente fará algo nesse sentido, pois a valorização do Real faz parte da estratégia palaciana de conter a inflação.