Voando no escuro – A alta do dólar na quarta-feira (27), que ao final dos negócios estava cotada a R$ 1,559, levou ânimo às autoridades econômicas do governo federal, mas ainda não se pode dizer que as medidas anunciadas pelo ministro Guido Mantega, da Fazenda, foram certeiras e surtiram efeito. Isso pode até ser verdade, mesmo que por pouco tempo, mas é cedo para qualquer afirmação nesse sentido. Afinal, no dia de ontem o mercado financeiro registrou a suspensão de diversas operações de câmbio no mercado futuro, o chamado derivativo cambial, porque os operadores precisavam de tempo para decifrar o pacote de medidas.
O problema da desvalorização da moeda norte-americana frente ao real não está nos derivativos cambiais e muito menos nas operações de hedge, mas sim no fluxo de dinheiro vindo do exterior. Com a crise financeira que se abate sobre os Estados Unidos e a Europa, os investidores naturalmente migram para países em desenvolvimento e com grau de risco reduzido. Como o governo federal se nega a promover um imediato fiscal, sobe as taxas de juros para conter a inflação e busca diariamente no mercado financeiro dinheiro para fechar suas contas, esse fluxo cambial continuará existindo, até que o Palácio do Planalto deixe de enganar os brasileiros.
Taxar em até 25% (IOF) os negócios de câmbio no mercado futuro pode ser um tiro no pé, pois a tendência é que as operações de hedge sejam realizadas no exterior, mais precisamente em países que cobram taxas menores. Se essa tendência se confirmar, o governo da presidente Dilma Rousseff certamente perderá o controle sobre o grau de alavancagem do mercado financeiro nacional.
Por enquanto, os investidores – especuladores também – estão digerindo as medidas anunciadas pelo governo, mas no capítulo seguinte encontrarão atalhos para continuar lucrando em um mercado seguro, regido por um governo que abusa da pirotecnia e que a cada dia que surge precisa de mais dinheiro para financiar um projeto megalômano e mentiroso.