Jogo duplo – Acabou ou aumentou o constrangimento para o Partido da República? Eis a questão, pois a legenda acaba de desembarcar do bloco de apoio ao governo no Senado Federal. A crise recrudesceu com 24 demitidos no setor dos Transportes, palco de acusações de superfaturamento de obras e cobrança de propinas. O discurso do ex-ministro Alfredo Nascimento pode ter corroborado para a decisão mais drástica, ao menos no âmbito do Senado. O desgaste era cada vez maior e continuará em meio a uma CPI que poderá ser deflagrada.
O líder do PR no Senado, Magno Malta (ES), obteve êxito colhendo seis assinaturas de senadores da bancada com vistas a saírem do bloco de apoio ao governo na Casa. A última assinatura foi do senador Clésio Andrade (PR-MG), no final da tarde desta terça-feira (2). Depois de receber ligação do líder, Andrade aceitou aderir à decisão. Na contramão da direção do partido, o senador passou como um rolo compresso pela decisão do PR de agir em bloco. Estava prevista uma reunião com a executiva nacional, para esta semana, com o objetivo de se avaliar as consequências e deliberar em relação às demissões no Ministério dos Transportes.
Pela Dilma
Para Malta não tem cabimento o PR continuar, agora enfraquecido, no bloco do governo. “Vamos continuar na base porque eu acredito na Dilma. Mas vamos sair de bloco. Para que bloco? Não quero concordar com o execramento [execração] público de inocentes que estão sendo arrastados para o esgoto porque alguns estão se fazendo de paladinos da moralidade.”
A decisão monocrática de Magno Malta, que desrespeitou o desejo do presidente nacional da legenda, senador Alfredo Nascimento, que buscava uma solução consensual, mostra que o PR apenas mandou um recado ao Palácio do Planalto com o anúncio da saída do bloco, mas quer manter intacta a possibilidade de uma retomada das conversações, pois continuará na base de apoio ao governo de Dilma Rousseff. Algo muito parecido com o binômio veneno e antídoto. A decisão torna-se ainda mais pífia porque o PR da Câmara dos Deputados continua, pelo menos por enquanto, como fiel aliado do Planalto.
Ao longo da crise, o PR cobrou que se usasse a mesma balança para todos os partidos envolvidos em maus lençóis. O senador Blairo Maggi (PR-MT) quer a mesma ação “dura” adotada com o PR para os demais partidos que possuem cargos em ministérios denunciados por corrupção. “Depois do PR, já dois partidos sofreram denúncias e nada foi feito. Por que só o PR? Eu espero por parte da Presidência o mesmo tratamento que foi dado ao PR: a mesma rapidez, o mesmo jeito. Que afaste as pessoas,veja se há problema ou se não há e traga de volta aqueles que não tem problema algum.”