Pagando para ver – As centrais sindicais resolveram, após demorada reunião com cinco ministros, na noite desta segunda-feira (1), não participar do anúncio do pacote de salvação da Política Industrial, que a presidente Dilma Rousseff anunciará nesta terça-feira (2). Contrariados com a falta de objetividade do governo em não especificar quais os pontos a serem abordados e com a falta de disposição do Planalto para não desonerar a folha de pagamento, preferiram boicotar o evento, aguardando o que Dilma dirá de novo.
“Muitas explicações dos ministros, mas em nenhum momento eles explicitaram qual é proposta que a Dilma vai apresentar. Falaram de um projeto piloto de desoneração da folha em apenas um setor da indústria, não citaram qual é o crédito para enfrentamento dos produtos importados. Um discurso muito bom. Mas só discurso. Não teve nada de novidade”, afirmou o deputado federal Paulo Pereira da Silva (PDT-SP), presidente da Força Sindical, ao sair da reunião. Ele acredita que a situação é “grave” e no setor da indústria o desemprego pode chegar a 100 mil, caso o governo não tome providências.
Paulinho, como é conhecido o sindicalista, afirmou que durante a reunião as centrais sindicais enfatizaram as principais preocupações com o setor. “A situação é muito grave nessa área de importação. O Brasil teve no setor industrial 58 mil pessoas que perderam o emprego no mês passado. E achamos que se nada for feito esse mês passa de 100 mil. Então é preciso um enfrentamento muito duro na área de ICMS, do câmbio. Nós achamos que foi muito tímida a medida tomada na área do câmbio. Nós achamos que tem que ter tarifa de importação, barreira de importação pesada. Não dá para aceitar essa enxurrada de produtos que está entrando no Brasil. Tem que fazer um índice de nacionalização de peças, de produtos. Esse ano quase 1 milhão de carros vão ser importados e os que são fabricados aqui mais da metade são peças que vem de fora. Não discutiram corretamente conosco”, desabafou
Em relação à Previdência, ele recebeu a notícia de que haverá uma desoneração, mas a União vai assumir o custo dessa desoneração. “Todas as Centrais se colocaram contra. Do jeito que está sendo colocado, uma coisa é o que o governo diz, outra coisa é o futuro da Previdência. Nós temos preocupação com a Previdência e não concordamos de jeito nenhum com isso”, disse.
Foi sugerido ao governo que deveriam ser criadas câmara setoriais para discutir setor por setor. “Como o governo nos ouviu e não tomou nenhuma posição, a Força Sindical não participa amanhã do lançamento desse programa”, declarou. Os demais líderes sindicais seguiram a tomada de posição.
Além da Força Sindical, também estiveram reunidos e não participam do anúncio do pacote: a Central Geral dos Trabalhadores do Brasil (CGTB), Central Única dos Trabalhadores (CUT), Nova Central Sindical dos Trabalhadores (NCST), Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, União Geral dos Trabalhadores (UGT), Sindicato dos Metalúrgicos do ABC e pela Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB). Do lado do governo participaram da reunião: os ministros da Fazenda, Guido Mantega, da Secretaria-Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, da Indústria e Comércio, Fernando Pimentel, da Previdência, Garibaldi Alves, da Ciência e Tecnologia, Aloizio Mercadante e Luciano Coutinho, presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Social (BNDES).
O sindicalista José Calixto Ramos, da Nova Central dos Trabalhadores, criticou a política econômica do governo. “As empresas como a Azaleia, por exemplo, recebeu na crise passada R$ 140 milhões e está fechando as portas em todo o território nacional. Não dá para entender. Se não houver essa preocupação do governo, nós vamos continuar patinando. E os empresários vão apertar cada vez mais e os trabalhadores tendem a perder seus empregos”, disse Ramos.
Lua de mel
Questionado se havia acabado a “lua de mel” com o governo de Dilma Rousseff, Ramos lembrou também da outra “lua de mel” e respondeu: “Ela pode até recomeçar. Com Lula a lua de mel já havia passado e vinha mantendo uma lua de mel permanente. Então com a presidenta Dilma deve ser a mesma coisa”, salientou o sindicalista. “Nós fomos convidados apenas para bater palma amanhã sem saber quais são as consequências”, jusxtificou.
Paulinho da Força tem a informação de que para cuidar dos portos brasileiros há apenas 20 auditores fiscais da Receita Federal. E diz que confirmou com o ministro Pimentel o ínfimo número ter ouvido do ministro Pimentel. “Não é possível, que você tenha 20 auditores. Os Estados Unidos tem 3.000, auditores ficais, o cara que vai no porto para auditar se o produto pode entrar ou não. “Aí depois ele (Pimentel) brincou, Sabe a vantagem de ter 20 é que a gente pode demorar para ver se o produto pode entrar”, disse o presidente da Força Sindical.
O sindicalista quer que haja um enfrentamento do produto importado para valer. “Isso significa barreira de importação. O governo pode taxar o produto estrangeiro em até 35%. O governo pode fazer barreira sanitário, fitossanitária. Ou seja, pode fazer produto chinês ficar no porto um ano. Como é feito com produto brasileiro lá fora. Tem medidas que o governo pode tomar já.”
Capital motel
Há medidas que as centrais sindicais apoiam que podem ser tomadas para barrar a entrada de capital estrangeiro. “Taxar o capital especulativo. Capital que a gente chama de motel. Aquele que entra e sai. Esse capital não pode continuar. O que ele (Mantega) fez? Ele fez 1% que pode chegar a 25%. E disse, não nós já avisamos eles. Nós podemos quebrar vocês cobrando até 25%. Tinha que fazer de 10% de cara para por medo nesse povo.”
Paulinho crê que o governo deveria estipular como índice 70% de peças produzidas no Brasil, no caso da indústria automobilística. “Hoje você tem um carro entrando, na Hyundai, por exemplo, que anuncia em todos os jornais de vocês, e muito, entra no Brasil dentro de uma caixinha e é montado aqui no estado de Goiás. Uma Azeera entra por US$ 9.860 e é vendido para o brasileiro a R$ 100 mil reais. Isso é um absurdo que o governo continua aceitando. Não tem uma peça do carro da Hyundai sendo fabricada no Brasil. Só da Argentina entram 700 mil carros por dia. As televisões montadas em Manaus não têm uma peça brasileira. Vamos ver que desgraças eles vão fazer e depois vamos ver o que nós apoiamos.”
Ele defende que o Brasil poderia colocar em prática medidas protecionistas, tais como aumentar a alíquota de produto importado. “A partir de hoje não pode fabricar um carro que não tenha 10% de peça nacional. Todo mundo faz medida protecionista, por que nós não fazemos? Nós não podemos aumentar para 35% a alíquota de importação de produtos? Então porque que não faz?”, questiona.