Haverá ônus – O Brasil está hoje bem preparado para suportar até um agravamento da crise. A constatação foi feita há pouco pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, em discurso na Comissão Geral, que no plenário da Câmara dos Deputados debate o agravamento da crise econômica mundial. Segundo ele, o elevado volume de reservas brasileiras (US$ 347 bilhões, cerca de R$ 600 bilhões), a melhoria dos indicadores fiscais e um mercado interno forte tornam o Brasil mais bem preparado para enfrentar um agravamento da crise econômica nos países industrializados.
“A dívida brasileira é uma das poucas do mundo que está caindo, e não subindo”, afirmou o ministro. Pouco antes, Mantega disse que a dificuldade dos países avançados de honrarem suas dívidas soberanas está no cerne da atual crise econômica.
Guido Mantega, porém, fez uma ressalva: bem preparado não significa que não haverá ônus. Por isso, segundo ele, é importante que o País mantenha o controle dos gastos públicos e adote medidas de dinamização da indústria nacional, hoje sob forte pressão da concorrência internacional.
Mantega pediu apoio dos demais poderes (Legislativo e Judiciário) para evitar um crescimento dos gastos públicos agora. “Da parte do Executivo haverá todo empenho para que não tenhamos crescimento de despesa”, disse o ministro.
Para o titular da Fazenda, o mundo deve continuar tendo problemas econômicos nos próximos dois anos. Ele explicou que essa é uma continuação da crise de 2008, que nos países avançados nunca deixou de existir, enquanto os países em desenvolvimento a superaram.
Segundo ele, a superação da crise deve demorar mais que o esperado, por causa da fragilidade dos países mais desenvolvidos, ao passo que a turbulência dos últimos dias vem de uma decepção dos mercados mundiais em relação aos resultados econômicos dos EUA e da Europa. “Houve um exagero político nas dúvidas quanto à solidez da dívida americana, mas de qualquer maneira isso mostra a fragilidade dos EUA”, disse.
Ele afirmou que a crise está mudando. Inicialmente houve uma crise financeira, e depois surgiu a crise da dívida dos estados soberanos, principalmente dos países periféricos da zona do Euro, como Grécia e Portugal.
“Entramos numa fase crônica dessa crise, porque os países avançados não conseguiram recuperar o dinamismo econômico. Eles olharam mais para a questão fiscal, e não para o crescimento. Com isso, os incentivos que foram dados foram retirados prematuramente”, ressaltou.
Mantega também disse que ao aumentar os ativos financeiros, baixando a taxa de juros e desvalorizando o dólar, os EUA produziram uma quantidade excessiva de crédito e recursos, parte deles direcionada para a especulação no Brasil. Mas o ministro destacou que o Brasil tem agido para impedir que o Real se valorize em demasia.
O ministro também apontou a falta de consumidores para todo o setor manufatureiro mundial. Com a escassez de mercados no exterior, todos estão em busca de mercados mais sólidos, como é o caso do Brasil. “Os países asiáticos, por exemplo, dependem de exportações. E a luta comercial passou a ser predatória, com subvalorização e práticas anticomerciais”, afirmou.