Vaccarezza destaca o combate à crise de 2008, mas ignora a volta da inflação e o endividamento recorde

Não é bem assim – Erraram os participantes da Comissão Geral da Câmara dos Deputados, reunida no plenário da Casa para discutir a turbulência econômica global, ao afirmar que a crise atual é a continuidade da que ocorreu em 2008. Quando muito é possível dizer que a crise atual, que ora preocupa o planeta e tem provocado solavancos nas Bolsas de Valores, está na mesma árvore genealógica.

A crise de 2008 foi decorrente do excesso de liquidez que imperou no mercado financeiro norte-americano, principalmente por causa do “subprime”, modalidade de empréstimo em que o tomador não oferece garantias. A crise atual, diferentemente da anterior, é reflexo da instabilidade econômica na zona do Euro, não dos desdobramentos da elevação do teto da dívida dos Estados Unidos e o respectivo rebaixamento anotado pela agência de riscos Standard & Poors, que, vale lembrar, acabou desautorizada pela reação do próprio mercado financeiro, que voltou a apostar nos títulos ianques.

Nos discursos que surgiram na sequência das explanações dos ministros Guido Mantega (Fazenda) e Aloizio Mercadante (Ciência e Tecnologia) e dos economistas Mailson da Nóbrega e Paulo Rabello de Castro, o que mereceu destaque foi o do líder do governo na Câmara, deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP), que por questões óbvias voltou no tempo para elogiar a eficácia do então presidente Lula da Silva no enfrentamento da crise de 2008.

Vaccarezza ressuscitou as palavras disparadas por Guido Mantega na ocasião, quando o ministro foi à Câmara para explicar aos congressistas as medidas tomadas para minimizar os efeitos do movimento que Lula galhofeiramente decidiu batizar de “marolinha”. Tão messiânico quanto histriônico, Lula não pode ser contrariado, sob pena de seu opositor, mesmo que companheiro de legenda, cair em desgraça.

Muito estranhamente, até hoje nenhum petista ousa contestar o fato de que a crise de 2008 foi supostamente vencida com a aceleração do consumo interno, para não afirmar que se tratou de consumismo, situação que só foi possível com a concessão do crédito fácil e irresponsável. O líder do governo destacou também, como ingredientes da luta contra a crise anterior, a redução dos juros e os investimentos do governo federal.

Considerando que os atuais ocupantes do poder central herdaram do ex-presidente Lula doses de genialidade, nenhuma voz sai das catacumbas do esquerdismo para protestar contra o retorno da inflação, não sem antes destacar que os 39 milhões de novos integrantes da classe média, advento comemorado com euforia pelo Palácio do Planalto, ascenderam à classe socioeconômica levando às costas um pesado fardo de carnês intermináveis. Em relação aos investimentos federais, é sabido que muitas das obras anunciadas serviram para garantir a vitória de Dilma Rousseff nas urnas.

A política nacional chegou ao ápice da degradação, não apenas por causa dos infindáveis casos de corrupção que pululam em todos os cantos do País e consomem anualmente a bagatela de US$ 3,5 bilhões, mas porque é impressionante a capacidade que os políticos têm de mentir e manipular a verdade em benefício próprio ou de um gueto ideológico. Ou o brasileiro acorda para dar um basta, ou o País em breve estará sob o manto de uma ditadura civil, cujo processo de implantação é garantido com a distribuição de esmolas sociais e o lançamento de programas pirotécnicos.