Câmara descobre buraco no teto que esconde preciosidades e desejos dos operários do passado

(Foto: Floriano Rios)
Arqueologia moderna – Na ultima segunda-feira (8), o auxiliar de serviços gerais Getúlio e mais três colegas tentavam descobrir um vazamento que dava para a entrada do Salão Verde. Ao fazer o caminho inverso da água que pingava pelo espaço mais conhecido da Câmara dos Deputados, depois do plenário, o grupo de uma empresa terceirizada encontrou um fosso pouco abaixo da plataforma de concreto que sustenta as duas cúpulas do Congresso Nacional – a forma geométrica encravada há 51 anos no cerrado do Planalto Central brasileiro.

A descoberta de mais um “caixão perdido” não é novidade para o Departamento de Engenharia da Câmara, segundo disse o servidor Pedro Augusto. Existiriam mais de uma dezena desses espaços vazios cobertos de cimento em outras partes. Foi um recurso do construtor da época evitar o desperdício de cimento e o excesso de peso no prédio. O detalhe é que as plantas arquitetônicas desapareceram e qualquer fato nessa direção valoriza o que pode estar escondido.

O caixão explorado na tarde desta quinta-feira (11) pelo presidente da Câmara, deputado Marco Maia (PT-RS), contém restos de um tempo em que o Brasil era ainda rural, mas que estava com os olhos no futuro. O presente era de uma época de poucas perspectivas e desconfianças com a classe dirigente. O passado fechado por concreto, entretanto, parece espelhar a lógica que ainda permeia o campo político brasileiro em pleno século 21.

Entre os objetos “arqueológicos” recolhidos estão um tubo de creme dental Gessy, pedaços de tubo e uma caixa de prego da marca Estrela – todos fora de fabricação. Entretanto, os achados mais importantes são quatro a cinco versos rabiscados na parede pelos operários.

De acordo com registros no Departamento de Documentação da Câmara, esse pessoal chegou a trabalhar na construção 16 horas por dia. Os registros de maio de 1959, por exemplo, mesma data do fechamento do buraco aberto no início desta semana, um operário fez 200 horas no mês e outras 98 horas extras.

Em meio as tarefas pesadas da construção, deixaram suas impressões. Em um deles, em português casto, um anônimo é cético: “Si todos brasileiros focem digninos de honra e honestidade, teríamos um Brazil bem melhor. Só temos uma esperança nos brasileiros de amanhã. Brazil de hoje, Brazil de amanhã”.

Em outro verso, assinado por Nelson Nilson, fala de sentimento. “Amor, palavra sublime que domina qualquer ser humano”. Já o operário José Silva dá um recado aos futuros ocupantes do prédio. “Que os homens de amanhã que aqui vieram tenham compaixão dos nossos filhos e que a lei se cumpra. Duraleques CE de lequis”.