A algema como instrumento de punição

    (*) Gilmar Corrêa –

    Sabe o que dá ojeriza nessa história dos escândalos? É apequenar o desvio de milhões de reais em torno do debate do uso de algemas. Os políticos, definitivamente, participam de uma classe cujo único objetivo é defender o indefensável. Os políticos, sempre eles, estão na contramão de êxtase coletiva.

    Oras, as algemas são um instrumento de satisfação popular. Assistir os corruptos do colarinho branco grampeados é um momento de vingança. É a desforra midiática instantânea. É ignorar que todos os instrumentos republicanos já foram pro espaço. A algema é símbolo de constrangimento dos acusados.

    Na vida real, o instrumento metálico se fecha minuto a minuto nos pulsos de pessoas comuns que vivem na periferia. Ao lado do revólver e da pistola, é a arma mais poderosa de intimidação da polícia. É um instrumento de trabalho tão comum que todos os agentes policiais tem a obrigação de calçar em suas cinturas.

    Nos tribunais, o uso das algemas ganhou corpo, há quase três anos, porque pessoas do alto escalão da burguesia e do poder republicano acabaram fotografados em operações de grande envergadura. Para o poder instituído, aí incluído a classe política, advogados de calibre, banqueiros, gestores públicos e boa parte do Judiciário, as operações são nada mais do que um esforço midiático de pouco proveito.

    A mídia e a algema são, portanto, uma espécie de anti-Cristo para essa gente. É preciso acabar primeiro com a algema, para depois reduzir, acabar ou mesmo aniquilar, com o flash da Imprensa.

    Sem querer exagerar, há uma conspiração alimentada por diferentes setores encastelados no poder. Tirar a algema de cena é também diminuir o aparato midiático. É um processo rápido capaz de suprimir a única satisfação popular em torno do noticiário político. É acabar, definitivamente, com o único interesse em torno das notícias que envolvem as administrações e os parlamentos públicos tupiniquins.

    Assim, abre-se uma longa avenida de impunidade e enterra-se um momento lírico de julgamento da massa. Os crimes do colarinho branco devem ser punidos, sim, com a algema. É a única esperança que o povo tem que alguma punição possa acontecer.

    E quem disse que o servidor público, o político e o corrupto não merecem receber algemas? E quem disse que esse pessoal envolvido em maracutaias não é perigoso?