Corrupção não! – Os manifestos de solidariedade à presidente Dilma Rousseff por parte dos senadores da base aliada e partidos fora da base aliada mudou a rotina das segundas-feiras na Casa. Em uníssono os discursos foram contra a corrupção, mas não faltaram críticas ao modelo político que a cada eleição proporciona combustível para desvio de recursos em direção às campanhas políticas. Situação que só a reforma política deverá reverter.
O senador Pedro Simon (PMDB-RS) afirmou que o objetivo das manifestações é criar um “movimento” de apoio à presidente, que, inclusive, sofre “com pressões da própria base aliada.“ Para Simon, a sociedade brasileira “quer justiça e ética” no combate às irregularidades.
“Quando começamos o movimento ‘Diretas-Já’, não éramos mais que meia dúzia [de parlamentares] na Câmara dos Deputados, e conseguimos. Hoje, a sociedade toda quer justiça, ética e dignidade”, afirmou o senador.
O senador Jorge Viana (PT-AC) criticou as leis brasileiras em relação a coibir a corrupção. Para o parlamentar petista, os que mais podem fazer são a Câmara dos Deputados e o Senado Federal, responsáveis pela feitura das leis. “São falhas, elas punem muito timidamente aqueles que se apropriam de orçamento público, de dinheiro público. São penas muito pequenas. E às vezes punem com tanto rigor pessoas que cometem uma falha na vida.”
Viana crê que esse desencontro precisa ser reparado. “Tomara que essa nova legislatura assuma esse papel, papel de protagonista dessa mudança. Eu acho que a gente sai apenas do discurso apenas contra a corrupção e dá segurança jurídica para o Brasil poder sem estardalhaço, sem ações midiáticas combater com seriedade a corrupção”.
O senador acreano destacou que a fragilidade partidária no Brasil é evidente. “Lamentavelmente, a cada dia que passa o tema da reforma política perde mais força. Fica mais longe da prioridade. Não acredito que a gente consiga ser eficiente no combate à corrupção sem termos partidos fortes sem ter uma segurança da legislação política do nosso País e sem resolver o problema de financiamento de campanha. Você tem corrupção antes da eleição e depois da eleição.”
Segundo Jorge Viana, a corrupção normalmente está vinculada a eventuais financiamentos de campanha. “Isso tem que ser mudado. E não pode ocorrer sem o fortalecimento de campanha.”
Todos contra
“Todo Senado defende. Todo mundo é contra a corrupção. Ninguém é a favor da corrupção. Não existem senadores contra a corrupção e senadores a favor da corrupção.” A afirmação é do líder do governo no Senado, senador Romero Jucá (PMDB-RR), que em seu discurso agradeceu o apoio que estão dando à presidente Dilma. No entanto, Jucá faz algumas ressalvas. “Discordo de alguns deles que pretendem fazer uma CPI. Não há necessidade de CPI se o governo está investigando todos os pontos”, ressaltou.
O senador Ricardo Ferraço (PMDB-ES) destacou o presidencialismo de coalizão idealizado por Sérgio Abranches. E o papel do Congresso Nacional que tem o seu “protagonismo na pauta política”. Na opinião de Ferraço, há uma “privatização do setor público para certos partidos que tem gerado prejuízo ao País”. Para o senador capixaba, deve-se buscar outra fórmula para a gestão pública. “Tem que haver pré-qualificação técnica. Há 25 mil cargos comissionados para se fazer apadrinhamento. A presidente Dilma tem perfil que nos estimula e que ela continue nesse caminho”, asseverou.
O senador Pedro Taques (PDT-MT) defendeu um “pacto anticorrupção” contra a “hipocrisia política”. O senador mato-grossense criticou alguns petistas que então aliados ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que “lutavam pela governabilidade, hoje combatem a investigação”.
Pedro Taques tem como alternativa um projeto estratégico do País. “Um projeto desse passa pelo combate à corrupção. Quem rouba o dinheiro público é lixo”, frisou. E destacou também que “a palavra de ordem é a resistência contra a corrupção”.
Referindo-se à presidente Dilma, afirmou estar do lado dela. “Aqui V.Exa. não será chantageada com cargos públicos.” Contudo, Taques criticou o comportamento das lideranças. “Aqui há uma ditadura de lideranças. Não podem existir primeiros entre aqueles que são iguais”.
Ao ocupar a tribuna, o senador Alvaro Dias (PSDB-PR) parabenizou a Polícia Federal e o Tribunal de Contas da União (TCU). “É indiscutível que nós estamos a reboque, que a presidente Dilma está a reboque. Em nenhum momento qualquer órgão de controle do governo apontou irregularidades ensejando a presidente a providências imediatas”.
Alvaro Dias salientou que a presidente Dilma Rousseff tomou providências depois que a imprensa nacional deu repercussão a denúncias que já eram formuladas desde o ano passado. “No momento em que se tentou instalar a CPI da Corrupção do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT). As denúncias não eram novas, mas ganharam enorme repercussão e a presidente tomou providências, demitindo alguns dos coadjuvantes de um esquema sofisticado de corrupção no Ministério dos Transportes.”
Já em relação ao Ministério dos Transportes, a Polícia Federal realizou uma missão bem-sucedida levando para a cadeia mais de 30 envolvidos em esquema de corrupção que se alargaria com a proximidade da Copa do Mundo em 2014.
O líder dos tucanos no Senado destacou que as denúncias publicadas pela revista “Veja” em sua mais recente edição justificariam uma medida preliminar. “O afastamento do ministro para que a investigação tanto judiciária quanto administrativa possa se realizar com eficácia sem o constrangimento da presença do acusado”.
“Essa é uma prática necessária e adotada por qualquer governo que tenha efetivamente a intenção de promover limpeza e mudança. Até agora, isso não ocorreu”, salientou Alvaro Dias.