De olho no Ministério das Cidades, senador Ciro Nogueira comanda rebelião no Partido Progressista

Cabo de guerra – No momento em que a presidente Dilma Rousseff desiste de continuar a faxina na Esplanada dos Ministérios, como forma de manter intacto o apoio da chamada base aliada, o Partido Progressista, que vive crise interna sem precedentes, passou a frequentar o noticiário nacional. Depois de pilotar a substituição do líder do PP na Câmara dos Deputados, o senador piauiense Ciro Nogueira agora comanda uma intifada cujo objetivo é enfraquecer o ministro das Cidades, o baiano Mário Negromonte.

Ungido ao ministério por indicação do governador da Bahia, Jaques Wagner (PT), o progressista Negromonte agora se vê às voltas com o chamado fogo amigo. Tudo porque Ciro Nogueira, cujas ambições políticas ultrapassam as fronteiras do Congresso Nacional, colocou na alça de mira a cadeira ministerial atualmente ocupada pelo companheiro de legenda. Horas depois de a revista “Veja” chegar às bancas de todo o País, no final de semana, com matéria sobre o PP e Mário Negromonte, o jornal Correio Braziliense trouxe, na edição do último domingo (28), reportagem que afirma ser o PP um partido paralisado. Na verdade, o Partido Progressista continua funcionando, mas é alvo de uma disputa inusitada.

A queda de braços que alvoroça as hostes do Partido Progressista começou com o complô – formado pelos senadores Ciro Nogueira (PI) e Benedito de Lira (AL) e o deputado Eduardo da Fonte (PE) – que culminou com a ejeção do paranaense Nelson Meurer da liderança da legenda na Câmara dos Deputados. O substituto, apadrinhado pelo trio, é o deputado Aguinaldo Ribeiro (PB).

Presidente nacional do PP, o senador Francisco Dornelles (RJ) disse ao jornal da capital dos brasileiros que “turbulências como essas só se resolvem com o tempo e com o silêncio”. Mas não é exatamente esse o pensamento de Ciro Nogueira e seus parceiros de rebelião. A trinca – Nogueira, Lira e Dudu da Fonte – trabalha com a tese burra de apear Mário Negromonte do cargo, mas a presidente Dilma Rousseff, que já avisou que não interfere em crises partidárias, pode nomear alguém de sua confiança caso a permanência do atual ministro das Cidades se torne insustentável. E o PP seria obrigado a experimentar o mesmo amargor que contrariou os integrantes do Partido da República, que continua apoiando o Palácio do Planalto, mas sem direito a vaga no primeiro escalão federal.

Mário Negromonte é acusado de beneficiar a cidade baiana de Glória, administrada por sua mulher, mas apesar das denúncias o ministro continua gozando da confiança de Dilma Rousseff. Nesta terça-feira (30), Negromonte acompanhe a presidente em viagem oficial a Pernambuco, reduto eleitoral do deputado Eduardo da Fonte.

Segundo vice-presidente da Câmara dos Deputados e corregedor-geral da Casa legislativa, Eduardo da Fonte é dado aos obsequiosos silêncios. Agora crítico do eventual privilégio de Mário Negromonte à cidade de Glória, o “globetrotter” Dudu não se manifestou quando o então ministro da Integraão Nacional, Geddel Vieira Lima (PMDB), privilegiou com verbas oficiais o seu estado natal, a Bahia. Esse “bom-mocismo” de ocasião no qual flana Eduardo da Fonte exala odores de estranheza e traição.