Greve dos operários do Mineirão poderá chamuscar inauguração de relógio da Copa de 2014

Marcha lenta – A caótica situação das reformas e construções de estádios a serem utilizados na Copa do Mundo de 2014 terá um diferencial. Em São Paulo, no chamado Itaquerão, estádio do Sport Club Corinthians Paulista, a construção se arrasta em ritmo lento, ou seja, está tudo na mesma. Em Belo Horizonte, Minas Gerais, os trabalhadores do Mineirão decidiram deflagrar greve um dia antes da visita marcada pela presidente Dilma Rousseff para sexta-feira (16). Justamente o estádio cujas obras são avaliadas como as quem se encontram em estágio mais adiantado. Ao menos 1.300 trabalhadores reivindicam reajuste salarial, melhor condições de alimentação e plano de saúde extensivo à família. A obra será palco na própria sexta-feira de um evento da FIFA, no qual será instalado um relógio com a contagem regressiva dos mil dias que restam para a abertura do Mundial. Enquanto isso, nas obras do Maracanã os operários entraram no 15º dia de greve.

Os trabalhadores do Mineirão querem equiparação salarial aos do estádio do Corinthians, onde um oficial de obra está recebendo R$ 1.150. Em junho, após audiência na Justiça do Trabalho, os trabalhadores acertaram acordo que, entre outros benefícios e plano de saúde, obtiveram 4% de reajuste, o que elevou os pisos salariais para R$ 605 (serventes) e R$ 926 (oficiais, que são pedreiros, carpinteiros, ceramistas).

A Secretaria Extraordinária da Copa (Secopa) do governo de Minas Gerais informou que são poucos os operários que estão trabalhando e que este número deve aumentar no período da tarde desta quinta. O Estado trata a situação ainda como uma ameaça de greve. Uma reunião deve acontecer no começo da tarde entre os operários e o Consórcio Minas Arena para tentar uma negociação que ponha fim ao movimento.

Maracanã

No Rio de Janeiro, a greve dos operários da reforma do Estádio Jornalista Mário Filho, o Maracanã, chegou ao 15º dia nesta quinta-feira (15). As principais reivindicações também abrangem condições precárias, agravadas por qualidade péssima da comida e uma suposta redução de valor referente a salários. A previsão é de que as obras estejam prontas para a disputa da Copa das Confederações, em 2013, mas os prazos de entrega deverão ser dilatados.

Vale lembrar que, em agosto, houve greve de cinco dias após uma explosão em barril de produtos químicos, que feriu o operário Carlos Felipe da Silva, 23 anos. As reivindicações não foram atendidas.

Parecer do TRT

A presidente Tribunal Regional do Trabalho (TRT-RJ), desembargadora Maria de Lourdes Sallaberry, agendou para a próxima sexta-feira (19), às 14 horas, o julgamento da greve dos trabalhadores que atuam na reforma do Maracanã. O objetivo é decidir sobre a legalidade da segunda greve dos trabalhadores.
O TRT havia homologado, no dia 22 de agosto, acordo firmado entre o Consórcio Maracanã Rio 2014 e o Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção Pesada intermunicipal (Sitraicp), que, segundo o Consórcio, não foi cumprido pelos empregados.

Providências quanto à péssima qualidade da alimentação destinada aos empregados e à inexistência de assistência médica no período noturno deveriam ser tomadas, mas não foram executadas. Em nova audiência de conciliação, no último dia 5, o desembargador Carlos Alberto Araujo Drummond determinou o julgamento do dissídio coletivo. O Ministério Público do Trabalho no Rio deu parecer sobre o caso e o Tribunal designou, como relatora do processo, a desembargadora Angela Fiorencio Soares da Cunha.

O governo insiste em se pronunciar enfatizando que as obras estão em andamento. A pressão para que a greve nas obras do Mineirão seja suspensa devido à presença de Dilma Rousseff é grande. Dilma deveria visitar as obras do Maracanã e concomitantemente pressionar às empreiteiras a oferecer melhores condições de trabalho aos funcionários de forma exemplar.