Ministro do Esporte está na berlinda, mas policial-delator não pode ser tratado como celebridade de ocasião

(Foto: José Cruz - Abr)
Cada um no seu lugar – É insustentável a situação do ministro do Esporte, acusado de envolvimento em esquema de desvio de dinheiro do programa “Segundo Tempo”. E tal situação se confirma com a decisão da presidente Dilma Rousseff, que está em viagem oficial à África, de tirar de Orlando Silva Jr. o poder de continuar negociando assuntos relacionados à Copa do Mundo de 2014 e de acompanhar no Congresso a tramitação da Lei Geral da Copa. Tais assuntos, de agora em diante, ficarão sob a responsabilidade da assessoria presidencial.

Com isso, o comunista Orlando Silva, caso continue no cargo, será uma figura decorativa à frente de uma pasta importante, se considerada a realização, dentro de pouco mais de dois anos, do maior evento esportivo do planeta.

As denúncias feitas pelo policial militar João Dias Ferreira são aparentemente consistentes, pelo menos por enquanto, mas nada foi comprovado em termos documentais. Ferreira continua insistindo em dizer que tem provas de sobra e que essas serão reveladas de forma homeopática, mas isso mostra que o policial quer chamar para si os holofotes. Descartar as declarações de João Dias Ferreira, o delator planaltino, seria um ato de irresponsabilidade, mas é preciso cautela ao se analisar mais um caso de corrupção no governo central. Não se trata de defender Orlando Silva Jr., mas de dar aos envolvidos no escândalo o mesmo tratamento.

O mais novo capítulo do cotidiano da Esplanada dos Ministérios deixa claro que a unanimidade que marcou a passagem de Luiz Inácio da Silva pelo Palácio do Planalto não saiu de graça. Na verdade, Lula preferiu fechar os olhos e deixar seus aliados cometerem transgressões à vontade, como forma de garantir não apenas popularidade em níveis elevados, mas a possibilidade de passar para a História. Mas o ex-metalúrgico não levou em conta que a mentira tem prazo de validade.

Enquanto Orlando Silva está na berlinda, João Dias Ferreira está sendo tratado pela imprensa e pela oposição como a celebridade da vez, quando, por questões de coerência, não deveria ser levado totalmente a sério. Ferreira, que é peça-chave no esquema de corrupção que ele mesmo denuncia, merece da opinião pública repúdio semelhante ao que está sendo merecidamente dispensado ao ministro do Esporte.

Com depoimento marcado na Polícia Federal, Ferreira alegou motivos de saúde para não comparecer à oitiva. No mesmo dia, longe de exibir os alegados problemas de saúde, o algoz do ministro do Esporte compareceu informalmente ao Congresso Nacional, o que fez a alegria da oposição.

Contrariado em alguns dos seus bisonhos objetivos, o policial-delator mora em uma casa avaliada em R$ 1 milhão, em Sobradinho, valor incompatível com os vencimentos de um soldado da Polícia Militar do Distrito Federal. Além disso, Ferreira tem na garagem de sua casa pelo menos cinco carros de luxo, que totalizam a soma de R$ 700 mil. Resumindo, como cantou certa vez o músico Ivan Lins, “somos todos iguais nesta noite”.