Escândalos seguidos mostram que o Estado, como um todo, não consegue se divorciar da corrupção

Pingos nos is – Escolhido para substituir Orlando Silva Jr. no Ministério do Esporte, o alagoano Aldo Rebelo ainda não assumiu oficialmente a pasta, mas já lhe sobram problemas à sua volta. Na quinta-feira (27), Rebelo foi alvo de reportagem do jornal “O Estado de S. Paulo” que afirma que o novo ministro recebeu, nos últimos anos, doações de patrocinadores da CBF, com quem sempre viveu às rusgas, e de empreiteiras que estão envolvidas na construção dos principais estádios para a Copa do Mundo de 2014. Aldo Rebelo nega as acusações, mas é fato que ele e Ricardo Teixeira adotaram uma repentina relação de boa vizinhança.

Já no segundo capítulo, o jornal “Folha de S. Paulo”, na edição desta sexta-feira (28), traz matéria em que Apolinário Rebelo, irmão do novo ministro, é acusado de participação indireta no esquema de desvio de recursos a partir do Programa Segundo Tempo. De acordo com o policial-delator João Dias Ferreira, em declaração à Policia Federal, Apolinário teria indicado Fredo Ebling como sendo o responsável pela arrecadação das propinas decorrentes do desvio de recursos.

Por enquanto as acusações de João Dias Ferreira continuam na seara do palavrório, sem provas, mas é preciso lembrar que Fredo Ebling foi chefe do gabinete de Aldo Rebelo na Câmara dos Deputados. Até aqui, tudo o que foi relatado não configura novidade, como também o que explicaremos a seguir, mas é preciso deixar os leitores atentos a determinados fatos.

Não se deve imaginar que qualquer legenda, independentemente da tendência, cobice um cargo no Executivo apenas e tão somente por questões ideológicas e de patriotismo. Primeiro porque o patriotismo foi covardemente assassinado pela corrupção. Enquanto isso, os derradeiros patriotas são corriqueiramente ridicularizados e ameaçados.

Acontece que com o advento do marketing político e a disparada da cobiça pelo poder, eleger-se tem se tornado um objetivo cada vez mais caro. Quando algo se torna além das posses de um cidadão que não desiste de suas metas, a saída é encontrar cornucópias incansáveis, legais ou não, capazes de transformar o sonho em realidade.

É voz corrente nos bastidores da política que no Nordeste, por exemplo, um candidato a deputado federal, por um partido considerado de média expressão nacional, precisa desembolsar pelo menos R$ 50 por voto se quiser desembarcar no Congresso Nacional, em Brasília. Ou seja, um deputado eleito com 150 mil votos certamente gastou R$ 7,5 milhões em sua empreitada.

Como ninguém investe tanto dinheiro em três meses de campanha (sabendo que receberá em quatro anos o equivalente a 20% do valor em salários) para defender os interesses do povo, alguém precisa custear essa epopeia. Como sempre, quem patrocina, direta ou indiretamente, esses escárnios da política é o próprio povo, cansado de ver seu suado dinheiro desparecendo através da corrupção.

Esse modus operandi, criminoso, é verdade, não é privilégio dos que gravitam apenas na órbita do parlamento, mas da maioria dos que flanam nos céus assustadores da política nacional. E vale para qualquer alarife que por conta de conchavos espúrios passou a ocupar a máquina estatal, não importando a sua patente. Sempre lembrando que política é negócio milionário e dos bons, onde os tolos não entram jamais.