Com funcionário-fantasma como ministro, governo sugere que beneficiário deixe o Bolsa Família

Fio trocado – Depois da corrupção, o item que mais marca o governo de Dilma Rousseff é a incoerência, algo que os jornalistas do ucho.info há muito cobram dos políticos brasileiros. Entre os tantos escândalos que podem levar à demissão de Carlos Lupi, ainda ministro do Trabalho, tem peso considerável o fato de o pedetista ter sido funcionário-fantasma da Câmara dos Deputados durante seis anos, tendo recebido pontualmente os salários, mas sem a contrapartida laboral.

No momento em que Lupi está na corda-bamba e a Procuradoria Geral da República classifica o fato como crime, o governo da presidente Dilma abusa da incongruência. Nos últimos dias, como noticiou este site, o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS) deflagrou milionária campanha nos meios de comunicação para divulgar temas relacionados ao programa Bolsa Família.

Tirante a não necessidade de se divulgar um programa social dessa forma, a campanha do MDS lembra os inscritos no programa que a qualquer momento a desfiliação pode ser feita, caso o beneficiário perceba que pode andar com as próprias pernas. Sendo possível o retorno ao programa em qualquer tempo, com prioridade nos primeiros três anos após a desvinculação.

As incongruências estão em duas pontas distintas. A primeira delas é que a sugestão foi levada aos veículos de comunicação um dia após o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) divulgar o relatório da Situação da Adolescência Brasileira, que mostra que dos 21 milhões de adolescentes brasileiros de 12 a 17 anos, 38%, 7,9 milhões aproximadamente, vivem em situação de pobreza, em famílias com renda inferior a meio salário mínimo per capita por mês (R$ 272,50). Em outras palavras, não havia razão para informar que é possível deixar o Bolsa Família por livre e espontânea vontade.

O segundo ponto conflitante está no fato de o governo federal acreditar que alguém fechará a torneira dessa magra, porém contínua, cornucópia oficial. O Brasil, como se sabe, é o paraíso dos alarifes, o que fará com que dificilmente alguém abra mão dos caraminguás patrocinados pelo poder. Por outro lado, é recoberta de doses colossais de inocência a autoridade que acredita que no país onde um ministro não se avexa de ter sido funcionário-fantasma alguém deixará o Bolsa Família.

Enfim, como disse certa feita aquele conhecido filósofo de botequim, “nunca antes na história deste país”. E PT saudações, ósculos e amplexos.