Operação contra o jogo do bicho no RJ foi um show de hipocrisia para promover autoridades

Face lenhosa – Divulgada com o devido alarde, até porque é grande a obsessão de policiais por câmeras e microfones, a Operação Aranha, deflagrada no Rio de Janeiro pela Polícia Civil acabou com a prisão de dezenas de pessoas envolvidas com o jogo do bicho. Proibido desde 1946, o jogo do bicho funciona no Brasil há décadas, sendo fonte de financiamento de autoridades corruptas.

A pirotecnia da Operação Aranha chega a espantar até mesmo o mais novato dos investigadores, pois informações sobre a ação policial foram passadas à Rede Globo, que durante uma semana acompanhou a rotina dos apontadores do jogo do bicho, como se a emissora carioca não pudesse colocar em risco o trabalho da polícia. Fora isso, na Globo certamente há centenas de funcionários e prestadores de serviços que diariamente derramam algum dinheiro no jogo que atrela os números a uma sequência de animais . em um país minimamente sério, os policiais que vazaram antecipadamente dados da operação já estariam demitidos.

Repetindo o que ocorreu em operações anteriores, a conexão entre o jogo do bicho e as escolas de samba do Rio de Janeiro foi exaustivamente explorada, o que não é novidade. Ora, se as autoridades têm conhecimento dessa nefasta ligação das escolas de samba com o crime, o governador fluminense e o prefeito do Rio não deveriam acompanhar os desfiles de Carnaval no sambódromo, pois lá estão banqueiros do bicho para todos os gostos.

A hipocrisia que recobre o combate ao jogo do bicho é enorme, pois a Caixa Econômica Federal, que por lei controla um cassino chamado Brasil, permite que os bilhetes da loteria federal sejam vendidos de acordo com a tabela de animais utilizada pelo jogo do bicho.

Fato é que essa investida contra o jogo do bicho só ocorreu porque alguém deixou de cumprir o combinado. Mesmo assim, a Operação Aranha já serve para despejar uma cortina de fumaça sobre algum escândalo maior. Até porque, não foi no Brasil que alguém inventou a honestidade.