Banco Central reduz a Selic em meio ponto percentual e provoca a revolta de empresários e trabalhadores

Recuo tímido – O Comitê de Política Monetária do Banco Central, o Copom, em sua primeira reunião de 2012, confirmou as expectativas do mercado financeiro e reduziu a taxa básica de juro (Selic) em meio ponto percentual, que recuou de 11% para 10,5% ao ano.

Ao final do encontro, que reúne o presidente e os diretores da instituição, o BC divulgou a seguinte explicação para a decisão tomada nesta quarta-feira: “Dando seguimento ao processo de ajuste das condições monetárias, o Copom decidiu, por unanimidade, reduzir a taxa Selic para 10,50% ao ano, sem viés. O Copom entende que, ao tempestivamente mitigar os efeitos vindos de um ambiente global mais restritivo, um ajuste moderado no nível da taxa básica é consistente com o cenário de convergência da inflação para a meta em 2012”.

Mesmo com a decisão do Copom, a taxa real de juro (descontada a previsão de inflação para o próximo doze meses) do País continua sendo a mais alta do planeta. Considerando os 10,5% da Selic, o juro real no Brasil é de cerca de 4,9% ao ano, bem maior que a taxa praticada pelo segundo colocado do ranking, a Hungria, com 2,8%. Para complicar a situação brasileira, a taxa média de juro de quarenta países consultados está em 0,9% negativo ao ano.

A Federação e o Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp/Ciesp) consideram que a decisão do Copom de reduzir em meio ponto percentual a a Selic é tímida. As entidades ressaltam que, diante da crise financeira europeia e suas consequências globais, há espaço para uma queda ainda mais acentuada do juro no Brasil, levando as taxas para patamares mais próximos dos praticados em outros países.

“A crise está provocando uma queda no valor internacional das commodities e reduzindo a demanda geral por produtos. Isso gera uma menor pressão sobre os preços. Então está claro que, no Brasil, não teremos pressão da inflação e que, portanto, temos espaço para baixar os juros. Juros menores vão ajudar a produção, a geração de empregos e o desenvolvimento do nosso país. Não podemos desperdiçar mais uma oportunidade de colocar o país no rumo do crescimento. O momento é grave e o governo não pode se omitir”, declarou Paulo Skaf, presidente da Fiesp e do Ciesp.

Para o presidente da União Geral dos Trabalhadores (UGT), Ricardo Patah, a preocupação maior está não apenas no ritmo lento da queda da Selic, mas principalmente no fato de que a redução de meio ponto percentual da taxa básica de juro não será repassada aos financiamentos e empréstimos contraídos pelas pessoas físicas.

Dados da Anefac (Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade) comprovam que a taxa média de juro passou de 6,84% ao mês, em julho de 2011, para 6,58% ao mês, em dezembro de 2011, uma queda de apenas 0,26 ponto percentual. Nesse período, a Selic recuou de 12,5% para 11% ao ano, uma redução de 1,5 ponto percentual.

“O Copom, mais uma vez, foi tímido ao reduzir a taxa Selic em apenas 0,5 ponto percentual. Essa timidez preocupa, pois, na verdade, o Copom está fazendo o jogo do mercado, que antes mesmo da reunião já anunciava a redução em 0,5 ponto percentual e direcionava seu ataque especulativo dentro dessa nova taxa de juro”, afirmou Ricardo Patah em nota.