Governo do Distrito Federal quer transformar Brasília na capital brasileira dos transplantes

Desafio lançado – Tornar Brasília núcleo de referência em transplantes de órgãos é uma das metas do Governo do Distrito Federal (GDF). Em 2011, foram realizadas no DF – incluindo hospitais das redes pública e privada – 419 cirurgias de córnea, rins e coração, por meio do Sistema Único de Saúde (SUS). A novidade deste início de ano é que o Hospital Universitário de Brasília (HUB) busca, junto ao SUS, autorização para transplantar medula, dando início a um novo serviço. Após três anos de espera, foi realizado no dia 13, com sucesso, um transplante de fígado no DF. E o Instituto de Cardiologia do Distrito Federal (ICDF) foi credenciado em novembro para também realizar transplantes de fígado: a unidade deve começar os procedimentos ainda neste ano.

“Vamos incentivar e ampliar o número de transplantes no Distrito Federal, que já foi muito maior. Nosso projeto é transformar o DF em referência nacional em medicina de alta complexidade”, destaca o governador Agnelo Queiroz. “Este é um assunto que, para mim, como médico e gestor, tem importância especial”, completa o governador. Quando deputado distrital, em 1992, Agnelo Queiroz foi autor de lei distrital que autorizou o GDF a criar a Central de Captação de Órgãos e o documento de autorização oficial de doação de órgãos.

Segundo dados da Secretaria de Saúde do Distrito Federal (SES-DF), dos 419 transplantes realizados de janeiro a dezembro de 2011, 350 foram de córneas, 60, de rins e nove, de coração. Dos 60 de rins, 16 foram feitos com doadores vivos e 44, com falecidos. O Hospital de Base e o HUB são responsáveis pela maioria dessas cirurgias.

Um novo coração
Os transplantes de coração e de válvulas cardíacas são realizados no Instituto de Cardiologia do Distrito Federal (ICDF), entidade filantrópica administrada pela Fundação Universitária de Cardiologia do Rio Grande do Sul e conveniada ao SUS. Todas as cirurgias de transplante realizadas em hospitais privados no Distrito Federal são pagas pela Secretaria de Saúde do DF, com recursos repassados pelo Sistema Único de Saúde (SUS).

O órgão pode ser captado na própria cidade ou também em outros estados. Nesse caso, é necessário um trabalho integrado de comunicação e logística que envolve o governo federal, secretarias estaduais de Saúde e hospitais. Um coração deve ser transplantado em até no máximo quatro horas após a retirada do órgão do doador e, quanto antes a operação for feita, maior é a possibilidade de sucesso no pós-operatório.

“O transplante de coração é uma operação complexa, e é possível apenas com o trabalho integrado e esforços somados. É um tipo de cirurgia que só funciona bem quando existe integração e por isso, deve ser uma estratégia de governo”, avalia o Dr. João Gabarddo dos Reis, médico e superintendente do Instituto de Cardiologia do Distrito Federal. Ele explica que não adianta o hospital ser o melhor, se não tiver uma parceria muito próxima com o estado e a União, que é responsável, por exemplo, pela organização das filas de espera, que obedecem, no caso das cirurgias de coração, unicamente o critério da data de ingresso na fila.

“Atualmente, nós somos referência para transplantes. Somos o estado com maior número de transplantes de coração, levando em conta o número de habitantes, e estamos entre os primeiros em número absoluto de cirurgias de transplante”, destaca Dr. Gabarddo.

A receita dos bons resultados, segundo ele, depende das parcerias. “O sucesso não é só do Instituto de Cardiologia, mas de todos os envolvidos. Nesse sentido, podemos destacar que a Secretaria de Saúde do Distrito Federal tem feito um excelente trabalho, identificando e mantendo os possíveis doadores em boas condições clínicas”, avalia.

Pequenos pacientes
Os transplantes cardíacos em crianças, como o que foi realizado no dia 6 de janeiro em um bebê de um ano e oito meses, são raros e, até hoje, somente cinco crianças passaram pelo procedimento. A criança transplantada no ICDF sofria de cardiomiopatia dilatada, um problema no lado esquerdo do coração que impossibilita o órgão de bombear sangue para o resto do corpo. De acordo com os médicos do ICDF, a criança passa bem e deve deixar o hospital em até um mês. Atualmente, outras duas crianças e dois adultos aguardam pela cirurgia.

No último dia 13, foi realizado com sucesso um transplante de fígado, após três anos sem esse tipo de cirurgia no DF. O transplante de fígado é considerado o tipo mais complexo de transplante. Dois hospitais são credenciados para fazer esse tipo de cirurgia no DF: o Hospital Brasília e o Instituto de Cardiologia do DF (ICDF).

A coordenadora da Central de Captação de Órgãos da Secretária de Saúde, Drª Daniela Salomão, explica que o GDF está criando uma fila de pacientes com indicação para transplante de fígado. Assim, quando o médico identifica a necessidade da cirurgia, ele encaminho o paciente para a equipe especializada de transplante para uma avaliação mais especializada.

Quanto ao transplante de rim, a médica revela que, apenas no ano passado, foram realizados mais de 40 procedimentos desse tipo. Atualmente existem 172 pessoas na fila de espera: todas as unidades envolvidas no procedimento estão empenhadas em acelerar a realização dos transplantes.

Daniela Salomão detalha ainda que em 2011 foram realizados 350 transplantes de córnea no DF. “Temos a expectativa de zerar essa fila em 2012”, afirma a coordenadora da Central de Captação de Órgãos. “O processo de doação de órgãos é atualmente um exemplo, já que o paciente que aguarda transplante pode acompanhar, na página da internet do Ministério da Saúde, www.snt.saude.gov.br, sua posição na fila de espera”, sustenta.

Campanha de doação – Seja doador. O seu sim vale uma vida. Esse é o slogan da campanha divulgada pela Secretaria de Saúde desde 1º de outubro de 2011 (veja o vídeo anexo). O objetivo é incentivar o brasiliense a doar órgãos e tecidos. Atualmente, o DF registra 17 doações para cada milhão de habitantes. Apesar de ser bem mais alta que a média nacional – de 10 por milhão –, a meta é aumentar esse número até que não haja mais filas de espera.

A Central de Captação e Distribuição de Órgãos funciona no Hospital de Base de Brasília (HBDF) com atendimento 24 horas pelo telefone 3315-1755. A Central cadastra os receptores de órgãos e tecidos, detecta prováveis doadores, consulta a família sobre doação de órgãos, quando confirmada a morte encefálica, providencia a remoção de órgãos e tecidos doados e distribui órgãos captados.

Tire suas dúvidas

– Quais órgãos ou tecidos podem ser transplantados?

Coração, rim, fígado, pulmão, pâncreas, intestino, córnea, medula óssea, pele, válvula cardíaca, ossos e esclera ocular. Estima-se que um único doador seja capaz de salvar, ou melhorar a qualidade de vida, de pelo menos 25 pessoas – caso todos os seus órgão sejam doados. O Distrito Federal está credenciado a realizar transplantes de rim, córneas, coração e fígado.

– Quais doações podem ser feitas em vida?

Fígado, medula óssea, pâncreas, rim e pulmão. Nos outros casos, é necessário que o doador tenha sido diagnosticado com morte encefálica. A lei autoriza a doação em vida ao cônjuge, aos familiares até o quarto grau ou mesmo a pessoas sem nenhum parentesco. Neste último caso, para evitar a venda de órgãos, é preciso autorização judicial, com base em um relatório médico, e análise, pelo juiz, da motivação pessoal de quem se oferece como doador. Segundo o Regulamento Técnico do Sistema Nacional de Transplantes, o caso deverá passar também pelo crivo de uma comissão de ética formada por funcionários do hospital onde será realizado o procedimento, antes de seguir para análise judicial. Normalmente, o candidato a doador tem de ser maior de idade, mas há exceções nos casos de doações a parentes autorizadas pelo responsável legal.

– Qualquer pessoa pode ser doadora?

Sim, desde que ela não possua em seu histórico doenças que prejudiquem o funcionamento do órgão doado ou provoquem contaminação. Não há limite de idade para a doação. O Regulamento Técnico do Sistema Nacional de Transplantes introduziu uma novidade no assunto: agora, portadores de doenças que antes impediam a doação podem doar órgãos para pessoas que sofrem da mesma enfermidade