Pressão alta de ministra mostra que o Brasil é um país de poucos e a saúde pública, uma vergonha

Soberba vermelha – O poder embriaga, suas benesses aniquilam o bom senso. Essa binomial receita cai como luva para as barbaridades que separam os discursos do PT e das atitudes de um seleto grupo de “companheiros”. Em meados de 2006, Luiz Inácio da Silva, que se preparava para a campanha em busca da reeleição, anunciou que a saúde pública no País estava a um passo da perfeição. A parcela da sociedade brasileira que não se deixa levar pela pirotecnia palaciana de pronto percebeu que tudo não passava de mais um embuste oficial.

Meses mais tarde, Lula, com a desfaçatez que lhe é peculiar, admitiu que sua declaração foi equivocada, para não dizer que se tratou de monumental homenagem à mitomania. Apostando na fraca e curta memória do povo, Lula voltou a falar sobre a saúde pública. Quando os norte-americanos passaram a se opor ao projeto de reforma do sistema público de saúde apresentado pelo presidente Barack Obama, o abusado Lula sugeriu ao colega ianque que adotasse o modelo do SUS, que, segundo palavras do petista, é barato e muito eficiente.

Como se sabe, entre o discurso de um político mentiroso e a dura realidade enfrentada pelo cidadão comum há uma distancia descomunal. Fossem verdadeiras ambas as afirmações de Lula sobre o sistema público de saúde brasileiro, ele próprio não teria procurado um hospital da rede privada, o Sírio-Libanês, um dos melhores do País, para se tratar contra um câncer na laringe. Decisão idêntica teria tomado a presidente Dilma Vana Rousseff, que quando estava à frente da Casa Civil aterrissou no mesmo Sírio-Libanês para um tratamento contra câncer linfático.

Para não tropeçar na quase interminável lista de autoridades que desconhecem as mazelas da rede pública de saúde, passamos ao caso da ministra Miriam Belchior, do Planejamento. Na manhã de quarta-feira (1), a ministra teve um problema de hipertensão e foi atendida no Instituto do Coração (Incor), em Brasília, que conta com médicos muito preparados e atendimento de padrão elevado.

Como circular pelo Brasil a bordo de jatinhos custeados pelo suado dinheiro do contribuinte é algo fácil de fazer, Miriam Belchior não se fez de rogada e acionou a FAB, que disponibilizou um avião oficial para que a ministra pudesse ser atendida no Hospital Sírio-Libanês, na capital paulista. No momento em que chegou ao hospital localizado na Zona Central da capital paulista, Miriam Belchior disse estar bem. “Estou ótima. Só tive um aumento de pressão e decidi antecipar meu check-up”, disse a ministra.

O problema súbito de saúde que foi alvo a titular do Planejamento é algo que acontece diariamente com dezenas de milhares de brasileiros, os quais pouca atenção dão ao problema, pois sabem que a situação pode piorar ainda mais nas filas dos hospitais públicos, uma vez que aguardar atendimento pífio por horas a fio é considerado fator hipertensivo.

Sede do governo federal e uma das principais cidades brasileiras, Brasília é um dos poucos redutos de boa qualidade de vida no País, oferecendo aos seus habitantes serviços bem acima do padrão nacional. Com hospitais e médicos altamente capacitados para atendimentos complexos, Brasília foi desrespeitada pela ministra Miriam Belchior, que optou por se tratar na cidade de São Paulo. A desculpa de antecipação de um check-up é tão vergonhosa, que a ministra deveria pedir desculpas publicamente a todos os que vivem na capital do País, sejam eles brasilienses ou não. Fosse o problema de saúde da ministra mais complexo, a viagem à cidade de São Paulo encontraria justificativas, mas controle de pressão arterial só não é possível no botequim da esquina.

A decisão da ministra permite que os brasileiros cheguem a algumas conclusões. A primeira delas é que não passa de utopia redacional o trecho da Constituição Federal que afirma que todos os cidadãos têm direito à saúde pública de qualidade, entre outras tantas promessas. A conclusão seguinte é que o ex-presidente Lula mentiu de maneira acintosa ao exaltar a excelência da saúde pública, quando sabia – e continua sabendo – que o setor é uma das vergonhas nacionais. A terceira é que ao contrário do que afirmava o slogan do governo do então presidente Luiz Inácio da Silva, o Brasil está a anos-luz de ser um país de todos.

O que causa estranheza é que mesmo diante de situações absurdas, como a de Miriam Belchior, há quem acredite nas pesquisas de opinião que conferem aos governantes petistas índices de aprovação que lambem o céu. Como disse certa vez o filósofo (sic) Lula, “nunca antes na história deste país”.